É possível, como alegam alguns, que a pesquisa do IBOPE, publicada no domingo, seja uma elaboração casuística feita em municípios onde o candidato Almir Gabriel tem percentuais favoráveis.
Mas, digamos que os números, de fato, revelam o momento atual da eleição com razoável veracidade, para que possam ser feitas as observações pertinentes.
A surpresa primeira é a colocação do candidato Priante abaixo de Edmilson Rodrigues.
Como a margem de erro declarada pelo IBOPE é de 3%, é provável que Priante esteja acima de Edmilson, o que seria mais aceitável, devido a estrutura partidária do PMDB no Estado ser maior que a do PSOL.
Caso Priante esteja mesmo abaixo de Edmilson, deveria o PMDB começar a desconfiar que talvez a sua estrutura partidária não esteja sendo totalmente usada a favor do seu candidato, ou, pelo menos, não está tendo a eficácia devida.
Se isto estiver ocorrendo, deveria também o PMDB começar a pensar que não vale à pena ceder às conveniências locais somente para ter uma célula partidária em um determinado território, se, no momento em que a vaca tosse, estas conveniências falam mais alto que a tosse da vaca.
Todavia, em sendo a questão partidária mero detalhe, em um sistema político em que o partido é tão somente uma formalidade adjetiva, cabe uma constatação menos sistemática e mais eventual do resultado do IBOPE.
Em primeiro lugar é pouco prudente já apostar que a eleição para governador do Pará está liquidada em primeiro turno. É um fato, não obstante, que Almir Gabriel chegará ao segundo turno na pole position.
Tal posição se faz pelo aparato institucional de que dispõe tanto a nível estadual quanto municipal: a maioria absoluta dos prefeitos do Pará dá sustentação estrutural à candidatura tucana.
Isto, aliado ao fato de Almir ter sido governador por duas vezes, portanto um produto conhecido do eleitor, traduz-se no conforto relativo mostrado nesta primeira pesquisa.
Os demais candidatos com potencial de ida para o segundo turno, são Ana Júlia e Priante, mas, os dois, cometem um equívoco, seja por um modelo adotado de conduzir a campanha, ou por falta de recursos financeiros para prover estrutura capilar na imensa e difícil geografia do Pará.
O modelo, na verdade, está sendo adotado pelos três candidatos até então tidos como principais na disputa: tanto Almir, como Ana Júlia e Priante, adotaram as visitas relâmpago aos municípios, onde fazem caminhadas ou carreatas e, oportunamente, realizam reuniões.
Os grandes comícios, que eram acontecimentos políticos esperados, foram suprimidos em função, talvez, de os candidatos estarem com receio de ausência de audiência, devido à impossibilidade jurídica de contratar artistas.
Em sendo assim, o candidato chapa branca leva vantagem na disputa, pelo fato determinante de que quando ele parte, fica ao seu serviço toda a estrutura municipal que lhe empresta o prefeito, que não hesita em colocar os instrumentos institucionais para turbinar-lhe a candidatura.
Do outro lado, Ana Júlia e Priante, após os cumprimentos de praxe e os acenos de até mais ver, não estão deixando sequer alguém com um megafone e um tamborete para servir de palanque e gritar-lhes os nomes.
O PT, como ainda tem alguns derradeiros moicanos que se prestam a fazer campanha sem lenço ou documento, e mantém fidelidade às candidaturas da sigla, leva vantagem sobre Priante, pois o PMDB não está ainda vendo o porquê de subir no tamborete, com o megafone na mão, sem, pelo menos, um copo d’água à vista, para molhar a garganta.
Tanto ao PT, quanto ao PMDB falta estrutura financeira para colocar pequenos comandos a defender as suas cabeças de pontes da operação que o adversário prepara para tentar lograr vitória em primeiro turno.
Sem esta estrutura, também, eles não conseguem fazer uma campanha que avance no território que ainda não foi conquistado por ninguém, bem mostrado na pesquisa, quando ela se faz na modalidade espontânea.
Se a tática de Priante e Ana Júlia é resguardar recursos para um provável segundo turno, é preciso lembrar que é imperioso que seja inserido na tática a chegada até ele, e, para isto, a intendência deve ser providenciada.
Achar que o horário eleitoral gratuito poderá ter impacto significativo no resultado eleitoral, e apostar grande parte das fichas nele, pode ser coisa de marqueteiro para valorizar o cachê, mas não cabe na cabeça da metade do eleitorado paraense, que está fora do eixo tecnológico: este eleitorado quer ser conquistado à moda antiga.
Além do mais, não é cauto apostar muito no horário eleitoral: os tucanos também estarão nele, e sabem, por experiência acumulada não desprezível, jogar estas cartas.
Portanto, para resumir a ópera, ou os candidatos Ana Júlia e Priante deixam nos municípios algo mais que o suor da caminhada, provendo uma estrutura mínima aos que ficam, ou estarão propensos a perder uma ótima oportunidade de desbancar o tucanato.
A mesma lógica se aplica à eleição para o Senado.
Mario Couto faz campanha para o Senado, usando a estrutura da Presidência da Assembléia Legislativa, há dois anos. Com isto montou uma rede de sustentação eleitoral que o coloca na dianteira, mesmo sem ter consistência para estar lá.
Luiz Otávio, por sua vez, está metido na mesma dificuldade estrutural de não deixar o seu rastro depois que passa. Está a se valer somente da prerrogativa de ser conhecido, e da relutância do cidadão em eleger Mario Couto: o eleitor talvez esteja achando que merece algo diferente.
Há campo propício para o PMDB lograr êxito na eleição do Senado. É absolutamente viável levar a eleição para segundo turno, mas, com a música que está tocando, o boi não está conseguindo dançar.
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