29 de jan. de 2007

Hommo Sexus



A ciência acaba de dar uma mão aos que sentem a compulsão de trair.

Segundo a antropóloga norte americana, Helen Fisher, o ser humano não pode evitar o desejo de trair, pois tal impulso é atávico.

A mais nova descoberta, portanto, isenta todo mundo de culpa: trair é um determinismo genético.

A traição, a prosperar a tese da Dra. Fisher, não pode sequer ser classificada como uma doença ou um distúrbio psicológico: o impulso de trair está no gene, no tal DNA.

Fisher começa a sua palestra, que está fazendo o maior sucesso na terra do Tio Sam, com a frase que é a redenção dos traidores: trair é um imperativo genético.

Prossegue ela, que a traição não é uma questão moral, mas científica.

O negócio e mais ou menos assim: o ser humano tem 75 mil pares de genes lutando para se perpetuar e, por conseguinte, perpetuar a espécie.

Como estes 150 mil genes se perpetuam? Reproduzindo-se. Como se reproduzem? Através do ato sexual.

Por isto, o ser humano é compelido geneticamente a ter o maior número de parceiros para que aumente a sua chance de reprodução.

Continua a Dra. Fisher dizendo que o amor, a paixão e o casamento são, na verdade, desculpas muito bem arquitetadas pela coletividade para justificar o objetivo essencial: fazer sexo.

Descobriu a ciência, portanto, que o homem é um animal sexual. A monogamia é uma invenção da sociedade que vai de encontro à natureza do ser humano: a traição é uma forma inconsciente de burlar regras sociais que conspiram contra a perpetuação da espécie.

Helen Fisher usa como um dos fundamentos da veracidade da sua afirmação, o fato, comprovado estatisticamente, de que 70% dos homens norte americanos não são fiéis, o mesmo ocorrendo com 56% das mulheres.

Em se considerando que temos, os brasileiros, os mesmos 150 mil genes a nos perturbar a fidelidade, e, se inferirmos os resultados estatísticos dos EUA ao Brasil, chegamos a conclusão de que as mulheres brasileiras só têm 30% de chances de não terem sido ainda traídas.

Os homens, não obstante, têm 44% de chances de estarem naquela coluna de serem os últimos a saber.

Certo agiu o legislador brasileiro, que, mesmo antes da tese da Dra. Fisher, já tratou de descriminalizar o adultério, afinal, não há lei que possa segurar o impulso dos 150 mil genes sexuais responsáveis pela obediência do teológico "crescei e multiplicai".

É a ciência ratificando a religião.

22 de jan. de 2007

O iFHC

fhc[1]
 
O ex-presidente FHC, à exemplo do que fazem ex-presidentes dos países ricos, fundou um instituto para cuidar do seu acervo.

Como não poderia deixar de ser, o nome do tal instituto é Instituto Fernando Henrique Cardoso, ou, para não correr das siglas, iFHC.

Eu não sei o que é que tem neste acervo e ainda não está claro para a nação qual o serviço que o iFHC pode prestar ao país.

Seja lá o que for, eu não desejaria dar um centavo sequer ao iFHC: prefiro dar uma moeda para estes malabaristas dos sinais.

Mera ilusão de contribuinte compulsório: eu, e você também, estamos contribuindo para o FHC posar de Reagan.

A imprensa paulista noticiou que a Sabesp presenteou o iFHC com R$500 mil.

A Sabesp é a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. É como se fosse a nossa Cosanpa.

Imaginem a Cosanpa fazendo uma doação de R$500 mil para algum tucano papa-chibé que fundasse uma ONG com o seu nome: foi isto que ocorreu em São Paulo com o FHC.

O fato de a Sabesp ter sido, nos últimos oito anos, comandada por tucanos, já deixa a coisa com um indício de amoralidade: coisa que os tucanos dizem abominar.

A doação foi feita com base na Lei Rouanet, de incentivo à cultura, o que quer dizer que o valor doado será abatido do imposto de renda da Sabesp.

Todavia, o que nos deve deixar, de fato, aperreados, é saber que, ao ser a quantia descontada no imposto de renda da Sabesp, o tal contribuinte, ou seja, eu e você, vai pagar o pato, ou melhor: o tucano.

Isto, definitivamente, não vale à pena.

Note-se que o fato só foi noticiado por se tratar de uma empresa pública, que deveria estar investindo o suado dinheiro dos seus usuários, na sua atividade fim: saneamento básico.

A não ser, é claro, que os diretores da Sabesp entendam que os objetos particulares do FHC, bem posicionados embaixo de luzes dicróicas, ajudem a malha de esgotos sanitários de São Paulo.

Na verdade o tal iFHC não recebeu doações somente da Sabesp. O correr da sacolinha do iFHC, no ano passado, arrecadou R$2 milhões.

Se estes R$2 milhões foram todos doados com base na Lei Rouanet, no resumo da ópera, quem doou fomos nós, pois, como eu já disse acima, há desconto no imposto de renda.

Este singelo exemplo de como está sendo usada a Lei Rouanet, deve servir de alerta para onde, porque e para quem, está indo a renúncia fiscal em nome da cultura.

Os incentivos fiscais devem ser parecidos com a anistia pós ditadura: amplos, gerais e irrestritos, ou seja, o alcance daquilo a quê se ofereceu a renúncia fiscal, deve ser de maior amplitude possível.

Achar que o acervo do FHC, e o iFHC tem aquela característica é uma ingenuidade eventual, para não dizer que é uma hipocrisia.

Portanto, fica aqui o meu protesto inócuo: eu não quero financiar o acervo do FHC: prefiro R$2 milhões investidos em saneamento básico.

15 de jan. de 2007

Pobreza e meio ambiente




Uma mineradora fez uma barragem de terra no seu canteiro. O Estado de Minas Gerais autorizou a atividade.

A chuva rompeu a barragem e o dilúvio de lama rio abaixo foi a crônica da semana nos noticiários do Brasil: mais um desastre ambiental causado por atividades mal dimensionadas pela empresa privada e mal fiscalizadas pelo poder público.

A reação do Estado na responsabilização objetiva da empresa é tão inócua quanto o discurso que ouvi outro dia de uma autoridade ambiental.

O estado de Minas Gerais, multou a empresa em R$50 milhões. Dois dias depois, quando a imprensa rebatia as lamúrias dos desabrigados, a multa foi aumentada para R$75 milhões.

O que eu ouvi de uma autoridade ambientalista em uma entrevista televisiva é que os brasileiros deveriam ser mais conscientes: fazer como os holandeses em Amsterdã, que usam bicicletas para quase tudo, consumir menos, gerar menos lixo.

O Estado e o ambientalista estão equivocados: a empresa nunca vai pagar a multa, como não pagou a anterior: ela é reincidente. São Paulo não é Amsterdã para o fulano sair de São Mateus à Ipiranga de bicicleta.

Deu-me vontade de ligar ao programa e perguntar se ele tinha ido de bicicleta para a entrevista, vestido com aquele terno alinhado que ele consumiu.

A questão ambiental está ligada diretamente à responsabilidade do Estado em encontrar uma equação que conduza a atividade econômica ao encontro do ecologicamente correto.

Tal equação só poderá ter um quociente factível, se o Brasil enriquecer, aumentando a renda per capita do cidadão.

Não é novidade que quanto mais pobre o país e mais mal distribuída a renda, maior será o dano ambiental causado na atividade da sobrevivência: o ser humano não hesitará em matar e comer o último exemplar de uma espécie se a sua barriga estiver roncando e ele não tiver outra opção.

Não se pode esperar, sob pena de um romantismo inconseqüente, que os senhores do planeta queiram reduzir os seus lucros ou absorver os custos dos seus preços, em nome da questão ambiental: eles até podem vir a ser ecologicamente corretos, mas, alguém tem que pagá-los para isto.

Portanto, o programa ambiental que o Brasil precisa implementar é a geração de riqueza e a distribuição de renda com o equilíbrio sugerido acima.

Faça-se o que fizer, diga-se o que disser, há um fato incontestavelmente cruel e efetivamente incontornável: não há como implementar o equilíbrio ecológico em um país em que mais da metade da população não tem esgoto sanitário e nem recebe água tratada.

O custo do ecologicamente correto, dentro da matriz econômica que o mundo adotou como modelo é alto.

Precisamos ter renda per capita razoável para arcar com os custos do equilíbrio ambiental que deverão ser embutidos nos produtos e serviços que o consumo moderno nos impõe e dos quais não queremos abrir mão.

Sem crescimento econômico vamos continuar como o cachorro que roda atrás do rabo e, pelo passo da dança, o rabo vai acabar mordendo o cachorro.

8 de jan. de 2007

Incêndio semântico





O Presidente Lula, em discurso recente sobre os episódios de violência no Rio de Janeiro, mais precisamente sobre os incêndios de ônibus, que já se tornam corriqueiros, classificou os atos de terrorismo.

O Prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, não gostou e disse que o Presidente Lula usou o termo de forma inconveniente, pois incendiar ônibus na cidade maravilhosa não é terrorismo, afinal, o Oriente é mais ali.

Os especialistas na semântica da violência acompanharam o Prefeito e criticaram o Presidente Lula: nada de terrorismo, apenas atitudes criminosas do crime organizado. O pleonasmo foi meu.

Eu não sou especialista e nem Prefeito do Rio. Deve ser por isto que concordo com o Presidente Lula: tocar fogo em ônibus de linha, com gente dentro, com o intuito de matá-los, é terrorismo mesmo.

Talvez haja aí apenas uma diferença de finalidade, todavia o meio é o mesmo: terrorismo.

O crime organizado, na acepção puramente conceitual do termo, não teria porque assassinar cidadãos que não o está desafiando, tão pouco interferindo em seus lucros.

No momento em que os criminosos agem da forma como estão agindo no Rio de Janeiro, e têm agido em São Paulo, querem, na verdade, desafiar o Estado, com a finalidade de marcar o território que conquistaram ou que pretendem conquistar.

Qualquer enfrentamento do Estado constituído por parte de organizações paralelas, através da disseminação do terror nos meios civis, seja lançando bombas ou incendiando ônibus, é terrorismo e como tal deve ser tratado.

O Presidente da República, portanto, tem toda razão ao sugerir uma legislação específica que proporcione um tratamento mais draconiano no combate às organizações criminosas que apelam para o terrorismo como forma de afirmação e visibilidade.

Tais ocorrências devem ser tratadas como crimes federais e a Polícia Federal deve ser aparelhada para recepcionar tal incumbência.

Não se trata de juízo pejorativo de valor sobre as policias estaduais, todavia, objetivamente, está visível que estas não têm tido sucesso na abordagem do problema, que cada vez mais se agrava no Brasil, a ponto de, em certos espaços, o crime organizado já ser um estado paralelo.

Deve-se esperar que o Presidente Lula, independente do debate semântico, não fique apenas na sugestão, mas, efetivamente, envie ao Congresso um Projeto de Lei que dê tratamento diferenciado aos terroristas que começam a fazer escola no Brasil.

Que Deus nos livre, caso esta situação não seja tratada com a gravidade que ela demanda, em breve tempo, seremos consternados com imagens de crianças com armas apontadas as suas cabeças, como vemos fazerem os terroristas na Rússia, a troco de verem seus comparsas liberados das prisões do Estado.

Espero que isto jamais ocorra no Brasil, todavia, não vejo muita distância entre isto e um ônibus sendo incendiado com gente dentro, impedida de sair.

1 de jan. de 2007

Folhinha do ano

folhinha[1]

Eu não sei se ainda se vende aquela folhinha do Sagrado Coração de Jesus, que era pendurada na parede e, dia após dia, tinha-se que arrancar uma folha.

Minha mãe, devota juramentada da ordem do Sagrado Coração, não deixava faltar a folhinha em casa.

A folhinha tinha três funções: a cronológica, que nos dizia o dia da semana e do mês, a religiosa, pois ali estava a imagem serena de Jesus Cristo a nos ouvir as preces, e a educativa, pois atrás da folha a ser arrancada, havia informações diversas sobre os mais variados assuntos.

Um dos meus prazeres do dia era arrancar a folhinha, o que descortinava o novo dia, e ler o que tinha atrás: eu adorava quando eram piadas ou curiosidades bizarras.

Mas o mais gostoso mesmo era arrancar a última folha do ano: isto era esperado o ano inteiro, pois, a cada ano, um de nós fazia o trabalho.

Ato contínuo, ido o ano velho junto com a última folha, chegava o ano novo, com a fixação da nova folhinha na parede.

Ai daquele que ousasse passar pela folhinha sem se benzer em respeito à imagem do Sagrado Coração de Jesus.

Este ritual se perdeu em alguma passagem de ano que, embora eu tente certas horas buscar nos escaninhos da minha memória, eu não consigo lembrar: não sei qual o último ano que a mim coube arrancar a última folha da folhinha do ano da parede.

O interessante disto tudo, é que estes fatos se deram em um século que já acabou: talvez nós ainda não nos tenhamos dado a devida conta de que estamos tendo o privilégio de termos vivido e presenciado, uma passagem de século.

Há um fato nestes seis passados anos do século XXI: o Brasil ainda não chegou ao futuro que nos foi prometido desde o século passado.

Mas, não podemos desesperar: esperar é o que temos feito e é o que devemos continuar fazendo.

No entanto, a espera não pode ser aquela de estar "sentado à beira do caminho", cantada por Roberto Carlos, grande sucesso no século passado, e sim a espera pro ativa que, também no século passado, cantou o Geraldo Vandré, na sua bela "Para não dizer que não falei de flores".

Mantenhamos a fé no futuro fazendo a construção do nosso presente. O futuro é o ideal humano. O presente ditoso à mesa, é privilégio de uma minoria no mundo.

Devemos manter, como arrego de um presente eventualmente magro, a dádiva de um futuro promissor, e é exatamente a busca disto que renova, a cada ano, as esperanças dos homens.

Feliz 2007!