21 de jan. de 2008

Bob Unger na Amazônia

Mangabeira Unger Roberto Mangabeira Unger é um carioca que se naturalizou norte-americano e incontinente passou a falar português com pesado sotaque estrangeiro.

Nunca ouvi Mr. Bob Unger falando inglês, por isto não posso afirmar que ele o fale com sotaque estrangeiro também, para concluir que tudo não passa de falta de uma fonoaudióloga ou se é charme com o lado de baixo do Equador.

Mr. Unger fez a América: veio a ser professor de Direito em Harvard, nos EUA, no ranking das 10 melhores do mundo.

Resolveu voltar ao Brasil, mas, deveria ter ficado em Harvard, onde tinha melhor proveito e melhor salário, pois aqui não tem conseguido se firmar como um intelectual que diga ou faça algo que possa servir ao país: as idéias que Mr. Unger prega não correspondem aos fatos.

Idéias não devem necessariamente corresponder aos fatos, todavia, precisam, quando vindas de alguém pago pelo erário para propor o futuro, ter alguma consonância com as perspectivas e não serem destiladas com a exclusiva intenção de criar polêmicas estéreis.

Depois de se desculpar publicamente com o Presidente Lula, por ter afirmado, em um artigo, que o atual Presidente comandava o maior esquema de corrupção da história do Brasil, Mr. Unger virou ministro de uma pasta que tem como objeto propor políticas de longo prazo para o Brasil.

A República, ao nomear Mr. Unger para a missão, comete um erro e repete outro.

O erro cometido é achar que o fato de alguém lecionar direito em Harvard, autoriza-lhe conhecimento de causa para pensar o Brasil do futuro.

O erro repetido é a velha mania de ao invés de despachar seus plenipotenciários para ouvir o que a Amazônia tem a dizer, se é que temos algo a dizer, envia-os para falar como pretende continuar a tutela.

Nenhum proveito terá a passagem da frota capitaneada pelo Ministro Unger pela Amazônia: ela nada mais será do que um turismo de 38 pessoas pago pela União, dizendo o que outros bwanas já falaram.

A única coisa nova que eu ainda não tinha escutado dos áulicos que por aqui passaram, é que aqui sobra água inutilmente, por isto devem ser construídos aquedutos para onde a falta calamitosamente.

A parte da calamidade eu entendi, e, embora na Amazônia também haja calamidade por falta de água potável, eu não sei o que o Ministro Unger quis significar com a tal inutilidade da sobra: a abundância de água da Amazônia não é uma inutilidade, apenas uma naturalidade.

Ainda, esta idéia do Ministro Unger sugere somente mais uma forma de exploração pura e simples de um dos muitos recursos naturais da Amazônia, como é feito com os minérios: vai-se a água e ficamos a ver navios.

Ao fim, embora eu concorde que a Amazônia não precisa ter medo de idéias, devo pensar que estas idéias não deveriam custar o passeio, patrocinado pelo contribuinte, de 38 pessoas para dizê-las: deveriam ser desfiadas de Brasília mesmo, para saírem mais barato.

Harvard deve ter perdido um ótimo professor de direito. O Brasil não deveria se dar ao luxo de contratá-lo para ser um forjador da sua usina de idéias. A Amazônia não terá saudades de mais este aventureiro de além mar que ousou desvendá-la.

14 de jan. de 2008

Belém na foto

O grito - Edvard Munch. Clique na imagem para seguir o link. Desde 2005, Belém ostenta o título de capital mais barulhenta do Brasil.

A forma como tem sido posta a manchete tem um quê de injustiça com a cidade e um toque de esperança para uma solução.

A pesquisa não trabalhou com dados objetivos. Em termos de decibéis absolutos há capitais, como São Paulo, que deixam Belém para trás.

A pesquisa do IBGE mediu a sensibilidade do cidadão ao barulho, apontando-o como um dos problemas da cidade.

Trata-se da percepção subjetiva das famílias: como as pessoas percebem se a rua ou a vizinhança é barulhenta.

Aí, portanto, reside a esperança de podermos tentar diminuir o incômodo que o barulho provoca: uma campanha educativa, acompanhada de medidas repressivas à zoada, tem eco na população, que apoiaria as providências.

O fato, todavia, é que, no Brasil inteiro, vivemos uma ditadura da sonoridade: há uma imposição sonora onde quer que você esteja.

Em um restaurante, seria inaceitável a atitude de o garçom receber o cliente com uma bebida em uma mão, um prato de comida em outra e forçá-lo a beber e comer o que se oferece.

Mas, é exatamente isto que fazem os restaurantes com música: nossos ouvidos são abastecidos com ela no momento em que entramos no recinto.

O estilo, a altura e a intensidade não estão no cardápio. Não podemos escolher o que ouvir, ou não ouvir: somos forçados a degustar o PF sonoro que o DJ da casa preparou.

Alguns, a título de maior sofisticação, resolvem pendurar uma TV na parede, de preferência agora de LCD, e desfilam vídeos clipes para acompanhar a ceia.

Este acompanhamento obrigatório do prato faz com que o cliente seja obrigado a falar mais alto, fazendo com que alguns locais mais pareçam com a sumaumeira do Largo de Nazaré na hora que os periquitos chegam.

No entanto, há outra coisa na qual Belém deve ser a campeã no Brasil: poluição visual.

E isto se espraiou pelo Pará inteiro. Não há cidade, por menor que seja, no qual a praga do outdoor não tenha chegado.

Não que a mídia não seja boa. O problema é que em Belém a coisa ficou exageradamente exagerada.

A desordem visual da cidade dói mais que o barulho das aparelhagens. As placas de mau gosto enfeiam a cidade e, muitas delas, encobrem as belíssimas fachadas do casario antigo.

Belém é a única cidade do mundo em que eu já vi participação de falecimento e convite para missa do sétimo dia em outdoor.

É só onde eu vejo, também, instituições de ensino comemorando primeiros lugares dos seus alunos nas placas.

E, embora a Justiça Eleitoral não durma no ponto, ainda é praxe por aqui político prestando conta, ou comemorando aniversário, em fileiras de outdoors.

O presente que o belenense poderia dar a si mesmo era começar a ter a consciência política de que as ruas são uma extensão da sua casa.

O poder público tem sido negligente nestes pontos, todavia, caso o cidadão não trate a cidade com lhaneza, por mais que o poder público aja, suas providências serão insuficientes.

7 de jan. de 2008

A oposição pírrica

Menos é mais, mais é menos - Hal Mayforth. Clique na imagem para seguir o link Os ladrões de banco sempre gozaram de certa admiração por parte dos estadunidenses: eles “roubavam os banqueiros avarentos que extorquiam os que precisavam dos seus serviços”.

Jesse James, John Dillinger e Willie Sutton, foram os mais famosos da espécie, o primeiro nos idos de 1800 e os dois seguidos nos idos de 1900.

Willie Sutton, falecido aos 79 anos, em 1980 em uma pacata cidade da Flórida, é o único que até hoje ainda não saiu do imaginário popular, menos pelos roubos a bancos que praticou, e mais por uma frase que cometeu.

Durante o seu julgamento, a Promotoria perguntou-lhe porque havia optado por roubar somente bancos. Slick Willie, como era alcunhado, respondeu o óbvio: “é lá que está o dinheiro”.

Eu não me lembrei de recorrer a Slick Willie ao afirmar, em artigo do ano passado, quando foi rejeitada a CPMF, que o Governo aumentaria impostos para se compensar: eu afirmei o óbvio.

Na semana que se seguiu à sucumbência do Governo ao Senado, aquele anunciou que não aumentaria impostos, mas, procuraria outras maneiras de compensar a perda dos R$40 bilhões que deixariam de entrar em 2008.

A oposição acreditou. Os banqueiros acreditaram. A FIESP, que patrocinou o fim da CPMF acreditou. Eu não acreditei.

Não que eu achasse que o Governo não tem palavra: governo têm apenas conveniências.

Ao raiar de 2008, o Governo anuncia, dentre outras medidas, o aumento de impostos para compensar a falta da CPMF.

Os aumentos anunciados chegam na mesma linha da contribuição extinta, na base do paga mais quem tem mais e quem pouco tem nada paga: é a ressaca da FIESP depois do réveillon do Senado e o porre da oposição, que resolveu bancar a extinção de um imposto eficiente e socialmente justo.

O fato é que, estivesse ou não o Presidente Lula com tudo premeditado ao resolver pagar para ver o Senado tirar a CPMF do governo, a dúzia passou a valer 24 para o Governo.

O Planalto ganhou a DRU, que lhe dá uma confortável margem de manobra financeira ao desvincular as receitas e, de quebra, cunhou um discurso de palanque contra a oposição que, mesmo confrontada com o compromisso de ir toda a CPMF para a Saúde Pública, manteve o queixo de rejeitá-la: eles não usam o SUS.

Na verdade, a vitória da oposição foi uma vitória de Pirro: o Governo, embora arrote prejuízo, não o terá; o contribuinte, embora ouça arremedos de benefícios, continuará, por outros meios, pagando o mesmo preço.

É preciso que o debate fiscal seja feito com a nação de forma mais pertinente e responsável.

O que deve ser debatido com mais intensidade não é a carga tributária que pagamos, mas, com que responsabilidade e eficiência o Governo a está usando e como nos estamos usufruindo dela.