Desde 2005, Belém ostenta o título de capital mais barulhenta do Brasil.
A forma como tem sido posta a manchete tem um quê de injustiça com a cidade e um toque de esperança para uma solução.
A pesquisa não trabalhou com dados objetivos. Em termos de decibéis absolutos há capitais, como São Paulo, que deixam Belém para trás.
A pesquisa do IBGE mediu a sensibilidade do cidadão ao barulho, apontando-o como um dos problemas da cidade.
Trata-se da percepção subjetiva das famílias: como as pessoas percebem se a rua ou a vizinhança é barulhenta.
Aí, portanto, reside a esperança de podermos tentar diminuir o incômodo que o barulho provoca: uma campanha educativa, acompanhada de medidas repressivas à zoada, tem eco na população, que apoiaria as providências.
O fato, todavia, é que, no Brasil inteiro, vivemos uma ditadura da sonoridade: há uma imposição sonora onde quer que você esteja.
Em um restaurante, seria inaceitável a atitude de o garçom receber o cliente com uma bebida em uma mão, um prato de comida em outra e forçá-lo a beber e comer o que se oferece.
Mas, é exatamente isto que fazem os restaurantes com música: nossos ouvidos são abastecidos com ela no momento em que entramos no recinto.
O estilo, a altura e a intensidade não estão no cardápio. Não podemos escolher o que ouvir, ou não ouvir: somos forçados a degustar o PF sonoro que o DJ da casa preparou.
Alguns, a título de maior sofisticação, resolvem pendurar uma TV na parede, de preferência agora de LCD, e desfilam vídeos clipes para acompanhar a ceia.
Este acompanhamento obrigatório do prato faz com que o cliente seja obrigado a falar mais alto, fazendo com que alguns locais mais pareçam com a sumaumeira do Largo de Nazaré na hora que os periquitos chegam.
No entanto, há outra coisa na qual Belém deve ser a campeã no Brasil: poluição visual.
E isto se espraiou pelo Pará inteiro. Não há cidade, por menor que seja, no qual a praga do outdoor não tenha chegado.
Não que a mídia não seja boa. O problema é que em Belém a coisa ficou exageradamente exagerada.
A desordem visual da cidade dói mais que o barulho das aparelhagens. As placas de mau gosto enfeiam a cidade e, muitas delas, encobrem as belíssimas fachadas do casario antigo.
Belém é a única cidade do mundo em que eu já vi participação de falecimento e convite para missa do sétimo dia em outdoor.
É só onde eu vejo, também, instituições de ensino comemorando primeiros lugares dos seus alunos nas placas.
E, embora a Justiça Eleitoral não durma no ponto, ainda é praxe por aqui político prestando conta, ou comemorando aniversário, em fileiras de outdoors.
O presente que o belenense poderia dar a si mesmo era começar a ter a consciência política de que as ruas são uma extensão da sua casa.
O poder público tem sido negligente nestes pontos, todavia, caso o cidadão não trate a cidade com lhaneza, por mais que o poder público aja, suas providências serão insuficientes.
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