26 de nov. de 2007

FHC, o mal amado

FHC1[1]

O grande problema que o PSDB tem chama-se FHC. O problema fica maior quando FHC resolve abrir a boca.

A convenção do PSDB, ocorrida em Brasília no dia 22.11, estava indo sem maiores desvios, com os discursos todos se mantendo no figurino político que cabe à oposição vestir, quando FHC resolveu desfilar de neo ariano.

“Nós somos, sim, gente que estuda e trabalha, porque sem estudo e trabalho não se muda o Brasil. Há, sim, acadêmicos entre nós. Não temos vergonha disso. Há, sim, gente que sabe falar mais de uma língua, mas sabemos falar nossa língua, e falamos direito. E faremos o possível e o impossível para que todos os brasileiros falem a nossa língua e falem bem. E não sejam brasileiros liderados por alguém que despreza a educação, a começar pela própria.”

A cotação acima foi a parte que a imprensa resolveu repercutir, do arroto mal cheiroso cometido por FHC na hora da sua fala.

O veio nazista da fala foi dirigido ao PT e mais especificamente a Lula, e resume os dois, comparados ao PSDB e a ele próprio, a uma comparação pernóstica: a elite do PSDB é sábia e aplicada, a do PT é mesquinha, “uma elitezinha nova que se aboletou no poder e agora quer aboletar os bolsos com o dinheiro do poder”.

Ao cabo, FHC passou uma reprimenda em todos nós, o distinto público, condenando a nossa licenciosidade em nos deixar liderar “por alguém que despreza a educação, a começar pela própria.”

Este alguém, óbvio, é o Lula e a sua língua sem certas concordâncias, como, aliás, a língua da maioria da população brasileira que o FHC quer consertar, e, de quebra, diversificar com alguns idiomas a mais.

À senso igual, não há estas diferenças longitudinais que o boquirroto FHC quer fazer entre a sua agremiação e o PT: os petistas também estudam e trabalham,  o PT está cheio de acadêmicos, muitos petistas são poliglotas e a maioria deles fala o português com a desenvoltura peculiar do brasileiro mediano.

Ainda ao mesmo senso, a elite do PSDB aboletou-se no poder o quanto pode e dele tirou os respectivos proveitos, fazendo uma maldita escola que, ao descontentamento da nação, os petistas acabaram sentando no banco: na hora em que FHC posava de paladino da alvura, a Procuradoria da República rasgava-lhe o véu da hipocrisia, deixando à vista os podres do mensalão tucano. Ou seja, o Valério de um era o mesmo calvo do outro.

O diverso senso, e é nesta diversidade que reside o recalque de FHC, é que ele jamais representará ao povo brasileiro o que Lula significa: análises de mérito à cargo dos cientistas políticos à espreita, Lula personifica o brasileiro que está do meio da pirâmide para baixo. Tem apoio popular inabalável porque o povo se identifica com ele e se sente representado por ele.

Lula é um presidente que se legitimou pela sua história. Representa a fé em um Brasil de oportunidades. É o retirante nordestino que veio a presidir a República, apesar dos acadêmicos, poliglotas e abastados que poderiam fazê-lo.

Este “apesar” não consegue ser digerido por FHC, que se imaginava o supra sumo da sapiência política, e o estereótipo do que deveriam ser os presidentes depois dele, desde que nenhum ousasse vir a ser mais do que ele foi.

FHC não foi um mal presidente. Tem o seu lugar na história do Brasil e o seu saldo foi positivo para o país. No entanto, ao se sentir mal amado e não controlando a sua inveja por Lula, está sendo um péssimo ex-presidente.

O PSDB deveria logo embalsamá-lo: ele ajudaria melhor dentro de um esquife de cristal.

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