Não deve ter sido mais uma impertinência verbal do Presidente Lula ter ele defendido, com todas as letras, a tal democracia chavista.
Reveste-se de cumprimento de agenda, elaborada por quem quer colocar o terceiro mandato na pauta, a fala de Lula desde o Itamaraty: coletivas presidenciais no Itamaraty seguem um script rigoroso.
Para o bom entendedor, a inteligência que cuida do assunto, resolveu que é hora de acabar com esta coisa de que um possível terceiro mandato para Lula é prelúdio de totalitarismo.
Para os estrategistas do lulismo, tudo que for aceito pelo voto é democrático: uma definição simplista que, se massificada, torna-se argumento da solução.
Foi exatamente isto que Lula conceituou, ao defender Chávez quando disse que “na democracia é assim, a gente submete aquilo que a gente acredita ao povo e o povo decide e a gente acata o resultado. Porque senão não é democracia”.
Por esta definição romântica de Sua Excelência, Hitler, Mussolini e Franco foram grandes líderes democráticos e os seus respectivos países exemplares democracias sob eles, pois todos começaram as suas respectivas loucuras contando com amplo apoio do povo, que quando se deu conta do equívoco que foi lhes dar suporte, já vivia sob as garras afiadas do totalitarismo.
Chaves adorou a tese e a repercutiu na sua campanha pela Reforma Constitucional que ele escreveu, fez aprovar no Congresso Venezuelano, e, para ratificar o democratismo da tinta, será submetida a um referendo em dezembro próximo.
A Reforma de Chávez será referendada pelo povo, pois ele domina a máquina eleitoral da Venezuela com rédea curta, controlando todas as atividades que poderiam arrefecer-lhe o totalitarismo que, mais tarde, cairá sobre o próprio peso: este filme não tem mudado em todos os países que resolveram exibi-lo.
Outro trecho da entrevista de Lula comemorado por Chávez, foi a defesa direta que aquele lhe fez ao afirmar que “podem criticar o Chávez por qualquer outra coisa, inventem uma coisa para criticar. Agora, por falta de democracia na Venezuela não é. Estou há cinco anos no poder e vou chegar a oito anos, eu participei de duas eleições e na Venezuela já teve três referendos, já teve três eleições não sei para quê, quatro plebiscitos, ou seja, o que não falta é discussão”.
O Presidente Lula não morre de amores por Chávez. Ao contrário, nutre por ele a mesma aversão sintomática que outros presidentes da America Latina sentem ao terem que aturar os seus arroubos proto-bolivarianos.
Portanto, deve-se entender a defesa a Chávez como um pretexto para sublimar a defesa de um plebiscito que deveria apreciar a recepção de um terceiro mandato presidencial no Brasil.
O próximo passo da tragédia que está sendo escrita, a ser oferecida ao distinto público como um romance parnasiano, é o exemplo de países com democracia sólida, que adotam o parlamentarismo, cujos primeiros ministros permaneceram por mais de oito anos no poder, como Margaret Tatcher e Tony Blair na Inglaterra, Helmuth Kohl na Alemanha e Felipe Gonzalez na Espanha.
O PT não deveria usar tal exemplo, pois, além de serem bem definidas as diferenças conceituais entre o parlamentarismo e o presidencialismo, o partido se declarou anti-parlamentarista no plebiscito de 1993.
Todavia, de fato, para o réquiem que se planeja para a mal consolidada democracia nacional, o exemplo é conveniente, afinal, pelos idos da década de 20 do século passado, firmou-se a doutrina sócio-política de que às massas as explicações devem ser simples e desprovidas de silogismos.
Como disse Mencken, “um relincho vale por 10 mil silogismos”.
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