Sempre que ocorrem incidentes ambientais ou episódios de fiscalização em empresas, os fatos travestem-se em versões opostas, mas que revelam uma só direção: há algo malcheiroso na história.
Quando a Imerys foi interditada, por ter deixado vazar caulim nos igarapés de Barcarena, a primeira reação da empresa, e dos arautos do desenvolvimento, foi de que a Secretaria de Meio Ambiente estava equivocada.
Na conta do capital, a moeda está à frente do meio ambiente e nunca à ilharga dele.
O argumento principal para que se devolvesse a licença de atividade da empresa era de que a paralisação lhe custaria 500 mil dólares por dia.
Ao carpimento financeiro somou-se o cínico, mas eficaz, argumento socioeconômico: a paralisação ameaçava os empregos.
A empresa construiu uma versão para apresentar ao distinto público: o vazamento foi fortuito, sem maiores conseqüências. A empresa sempre teve o maior cuidado ambiental no exercício da sua atividade.
A versão do descuido com a manutenção das bacias e a desatenção da empresa à inspeção da Secretaria de Meio Ambiente, em agosto de 2006, que detectou problemas de fissuras na bacia de rejeito nº 03, exatamente a que rompeu e causou a poluição química, foi o outro sentido da direção do vento.
O vento, afinal, é esta brisa constante e malcheirosa de se fazer empreendimentos por aqui, como dantes se faziam nas colônias: na marra.
A brisa é pior ainda, quando estes desserviços são justificados pela geração do tal PIB que os caboclos nunca viram: estes caras-pálidas precisam começar a coçar os bolsos e dividir esta renda com cuidado ambiental maior e repercussão social mais conseqüente.
Argumentos eventualmente correspondentes aos da Imerys, publica a Pará Pastoril Agrícola, a Pagrisa.
O Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo alega ter encontrado 1.108 empregados em condições análogas à de escravos em uma de suas fazendas, em Ulianópolis-PA.
A empresa nega o relato dos fiscais e até afirma que, dos 1.108 trabalhadores, 80 querem voltar a cortar cana para a mesma.
Entre a versão da indignada empresa e a dos draconianos fiscais do Ministério do Trabalho, está a indigesta verdade de sempre ter soprado, desde os tempos da borracha, um vento malcheiroso na planície amazônica.
Não se deve apostar no arrojo empresarial a qualquer custo. Não se deve elevar o empreendedor à categoria de demiurgo do desenvolvimento só porque ele gera emprego: isto é componente da sua atividade. Veja-se como isto é feito antes de lhe espetar a medalha ao peito.
É possível desenvolver a Amazônia e explorar as suas riquezas sem a insensatez de degradar-lhe o ambiente.
Some-se a isto a imposição da legislação contemporânea, de que escravizar trabalhadores não é tão só atar-lhes ao açoite do pelourinho.
Negar condições mínimas de dignidade, como servir comida de qualidade duvidosa, ou, ao final da liça, oferecer como teto apenas uma lona preta, constitui condições de trabalho análogo à escravidão.
É possível melhorar a qualidade do ambiente de trabalho rural, para isto, o brioso agro business não precisa aumentar os preços: basta diminuir os lucros.
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