Um amigo contou-me suas agruras durante a visita de um casal, amigo dele, que veio do Rio de Janeiro, passar uma semana em Belém.
Quando o casal chegou à Belém viu a propaganda de um passeio à cidade de Soure, que prometia barco e hotel maravilhosos, moças e rapazes dançando carimbó, praias e tudo: mais parecia o Caribe na Baía de Guajará.
Lá se foi meu amigo, e o casal, pegar o barco.
Uma vez à bordo, constataram que a teoria do pacote, na prática era diferente.
Por cima das cadeiras do barco havia redes atadas e um fedor exalava: para feder mais que rede de caboclo embarcadiço, só pixé de boto preto.
Tiveram que encarar o fedor da rede e o caboclo pulando, por cima das cabeças deles, para se ajeitar na dita cuja.
Deu vontade de merendar. A lanchonete era em cima da casa de máquinas e o sanduíche tinha gosto de óleo diesel misturado com graxa.
Deu vontade da senhora ir ao banheiro. Ela voltou, em segundos, amarela, tendendo ao verde.
Não era patriotismo somatizado: era o banheiro que nunca houvera sido lavado, e fedia mais que pixé de boto preto e inhaca de mulher juntos.
Chegaram. A madame correu para o banheiro. Achou o chão da retrete muito quente.
O meu amigo foi saber o porquê: o gerente explicou que o piso estava em cima da saída do ar condicionado do quarto de baixo, mas que era só ligar o chuveiro e o chão esfriava.
Meu amigo perguntou que horas começava o show folclórico. A moça atrás do balcão respondeu que não teria show naquela noite, porque o dono do hotel não viera de Belém e nem mandara os cem reais para pagar os artistas.
Meu amigo reclamou que o show estava no pacote. A moça disse que nada podia fazer. Meu amigo disse que dava os cem reais. A moça pegou os cem reais e disse que iria avisar no quarto quando o show fosse começar.
Na falta do que fazer a tarde, meu amigo resolveu embriagar-se e embriagar o casal, assim o tempo passava mais depressa. Ficaram semi-ébrios, para não perder o show.
Lá pelas nove, o meu amigo acordou com o som do carimbó. Vestiu-se e desceu: o show estava terminando.
Reclamou que não fora avisado, como combinado. A moça disse que esqueceu. Ele pediu para repetir. Só repetia se pagasse mais 50 reais. Ele pagou.
Hora de voltar. Quando iam subir com o carro, alguém de dentro do barco avisou que atrasaria por motivos de força maior. A especificação da força maior não interessava, mas era uma força maior.
Na despedida, no aeroporto de Belém, o casal deu um aceno, com cara de até nunca mais.
Mas, pensou, meu amigo, quem sabe eles voltam para o círio...
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