A Wal-Mart, gigante do varejo estadunidense, enfrenta, nos EUA, um processo inusitado: a organização social Internacional Labor Rights Fund (IRLF), pede-lhe uma bilionária indenização trabalhista, em nome de 14 chinesas que trabalham em fábricas, na China, que fornecem à rede varejista.
O caso de uma das trabalhadoras: Jane Doe II – é usado um pseudônimo para proteger a operária a sua família de represálias - trabalha em uma máquina de costura, em Shezen, 20 horas por dia, sete dias por semana. Não recebe horas extras. Pagam-lhe 24 dólares, o equivalente a R$50,00 por mês.
Alega a IRLF que a empresa não fornece os equipamentos de proteção necessários e a operária sofre de problemas respiratórios e dermatológicos por causa da poeira do algodão e da lã à qual está exposta.
Mas, prossegue a IRLF, a operária não tem escolha: ou se submete a estas condições ou perderá seu emprego e será colocada numa lista negra, prática comum nas fábricas de confecção de Shezen.
A ação é de impossível acatamento, pois a ILRF não é parte legítima para reclamar, nos EUA, por operárias chinesas, mas, o que queria a organização, já está ocorrendo: a discussão sobre o aviltamento da mão de obra na China.
Já houve nos EUA, contra a Wal-Mart, denúncias semelhantes, o que levou a rede a se comprometer, perante um Tribunal Federal, a supervisionar as fábricas de seus fornecedores chineses, e só comprar de quem provesse aos trabalhadores padrões mínimos de dignidade.
Ao lado de Jane Doe II, encontram-se outras vítimas de uma política comercial que visa baixar os preços a qualquer preço, e um destes componentes do qualquer preço é uma prática que o mundo civilizado quer banir: o trabalho escravo.
A China se especializou na oferta de preço baixo. A agressividade da sua mão de obra é um componente que o país dispensa no componente de custos.
Por outro lado, quem fomenta esta atitude são as redes varejistas dos grandes mercados de consumo.
Na forma, a China é um exemplo de prosperidade a ser seguido. Ainda não foi efetuado, todavia, em função do fechamento em que vive o sistema, um estudo mais aprofundado sobre as bases do crescimento chinês e as perspectivas de sustentabilidade do mesmo, caso os seus importadores resolvam criar juízo e exijam avanços sociais e trabalhistas equivalentes.
Não deve ser exemplo, um sistema de produção em cuja linha uma operária, para ir ao banheiro, precisa conseguir previamente a permissão do supervisor. Caso este permita, ele dá uma espécie de bônus de saída por 5 minutos: há somente dois bônus de saídas diários por cada secção de 70 trabalhadores.
Se a China aumentasse seus preços, para dar dignidade a maioria do seu operariado, ela perderia o seu mercado e entraria em colapso financeiro.
O custo, portanto, da sua prosperidade econômica, é a manutenção de índices sociais precários, mantidos por métodos trabalhistas medievais.
O cinismo internacional pactuou que o modelo chinês é para os chineses: todos querem mantê-lo, pois nos enchem as prateleiras por poucos dólares, mas, quem ousar imitá-lo em um país com um mínimo de responsabilidade social, corre o risco de acabar na cadeia.
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