A lógica de exploração da Amazônia, através dos planos de desenvolvimento equivocadamente elaborados para a região, tem-se revelado um desastre ambiental.
O afã do ‘desenvolvimento’ deu à luz a disposição das políticas e dos políticos a fazerem pacto até com o diabo para gerar emprego e renda, não importando a qualidade e a sustentabilidade destas pseudo oportunidades.
A massa trabalhadora, que a esta lógica empresta o suor, tangida em migrações loucas, sem outra alternativa imediata para lhes prover a despensa, faz coro com a marcha da insensatez dos arautos da Amazônia industrial.
No meso sudeste do Pará, por exemplo, respira-se fumaça para que se somem 1.5 bilhão de reais ao PIB nacional, assados nas guseiras.
Grande parte desta soma advém da exploração ilegal da floresta, para fazer o redutor do caldo que faz o gusa: o carvão vegetal.
Os carvoeiros vivem em condições medievais e desenvolvem um trabalho árduo, cuja valia é aviltada.
A atividade lhes toma cerca de 12 horas por dia. Auferem menos de um real por hora. Não têm nenhuma garantia trabalhista, pois produzem o insumo por sua conta e risco, aviados por empresas que conseguiram autorização para a queima.
Esta terceirização resulta no aviltamento da remuneração e na precarização das condições de trabalho: a cadeia de produção do carvão é digna de uma página de Steinbeck, em seu "As vinhas da ira".
Quem sua no forno e impregna os pulmões de fumaça e fuligem, inclusive crianças, recebe um ínfimo percentual do preço. Os demais, alugando o trabalho humano, captam o lucro do carvão produzido.
Está clara uma desgraçada desvalorização utilitarista da força de trabalho humano: o carvoeiro não recebe sequer para repor parte de suas energias consumidas em cerca de 300 horas de trabalho mensal.
As políticas de exploração e ‘desenvolvimento’ da Amazônia fizeram pacto com o diabo e, em troca de uma riqueza que só ao capital aproveita, entregaram a alma do trabalhador.
Há muito mais coisa por trás disto do que sonha a nossa vã filosofia e que não cabe em um artigo, mas, o resumo da tragédia, é que este banquete de poucos está sendo regado com a destruição de muitos.
É possível industrializar a Amazônia, mas a sustentação desta possibilidade só poderá ser alcançada se os paradigmas que deram régua e compasso à neurologia atual forem radicalmente modificados.
O maior valor econômico da Amazônia é a sua biodiversidade e como não sabemos o que fazer com isto, estamos acabando com ela, a ferro e a fogo.
Enquanto isto, a parte do mundo que investe em pesquisa biotecnológica, cuida de capturar a massa genética que sobra das cinzas, para depois nos vender, não a preço de ferro e nem de madeira, mas de ouro puro.
E apesar disto, as políticas públicas, continuam a financiar as serras e os fornos, assim como financiaram a dizimação das castanheiras para criar gado.
Sabe-se hoje que uma castanheira produz em um ano o que uma vaca produz em três: trocamos três por um. E se colocarmos na conta o passivo ambiental gerado na sandice, ao invés de números teremos lágrimas.
Há ainda um ponto que poucos cozem nesta marcha da insensatez: a cultura amazônica, latu sensu, está morrendo.
Se você se considera um ser amazônico, saiba que você é uma espécie em extinção.
Cabe a você escolher como agüenta o chicote: se calado ou gritando.
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