5 de mar. de 2007

Etanol para o jantar

etanol[1]

O Presidente Bush está vindo ao Brasil trazendo na agenda a busca de um padrão técnico para o etanol: passo inicial para transformar o álcool combustível em commodity, que seria negociada em bolsas.

O Brasil e os EUA, juntos, já capitalizam 70% da produção e consumo mundial do etanol.

O Presidente Hugo Chaves intuiu que Bush tenta, a partir do Brasil, isolar a Venezuela, ao querer bancar uma alternativa ao petróleo.

Chaves tem criticado a utilização do etanol como alternativa ao petróleo. O Movimento dos Trabalhadores sem Terra, faz coro com ele.

Discordo com Chaves em quase tudo. Tenho algumas reservas com o MST. Concordo com os dois na questão do etanol.

A produção do etanol é uma via temerária para produção de energia, enquanto subtrai a oferta de alimentos, que poderiam ser produzidos, em maior quantidade, na mesma área.

São necessários 20 milhões de hectares de milho para produzir um milhão de barris de etanol. Esta proporção não está sendo considerada de forma conseqüente: a mudança de destinação da plantação, de alimento para combustível, elevará o preço daquele, que terá diminuído o seu objeto.

Como a soja, o milho, a cana e outros que movimentarão os carros ao invés de irem à mesa, tornar-se-ão commodities, correremos o risco de termos a colher vazia antes de a levarmos à boca: é mais lucrativo ao agro business.

Além disto, como o mundo consome combustível sem pisar no freio, e o mercado consumidor de energia tem mais moeda do que quem precisa comer, será inevitável o avanço das plantações em áreas virgens, pressionando ainda mais o passivo ambiental já estocado.

A legislação é pouco efetiva. O capital é absolutamente inconseqüente e ágil quando enxerga valia e o Estado é pachorrentamente lento e inexpressivo para domá-lo: aqui no Pará, por exemplo, enquanto se discutem normas e formas de a floresta não virar carvão, as guseiras se vão implantando de qualquer jeito, sob o capcioso discurso de que geram emprego, renda e PIB.

Esta história da Amazônia remete a uma ordem inversa de tempo. As gerações futuras pagarão a insensatez do presente: o século XXI não será ainda aquele que irá romper com os ciclos de ascensão e queda da civilização.

O sensato seriam pesquisas para implementar e dispor alternativas menos óbvias de energia, que, na cadeia de elaboração, não legassem passivos ambientais tão extensos.

A manipulação atômica, embora ainda seja um tabu, ou pura inconveniência comercial inconfessável, em uma análise inteligente seria a mais viável.

A matriz de consumo deveria ser remodelada. A legislação deveria constituir normas técnicas que, no processo de construção e fabricação de bens, fosse ponto principal a redução do consumo de energia.

O ser humano tem alcançado admiráveis índices de progresso tecnológico, todavia, o planeta não está conseguindo sustentar a pressão que esta matriz está exercendo e começa a dar sinais de estresse.

Se a inteligência humana teimar em ignorar isto e não buscar uma equação confortável ao sistema, cada vez mais caro será o preço que as gerações futuras terão que pagar.

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