12 de mar. de 2007

Carruagens de fogo

Apocalypse - Joanne Bird

Foram fechadas e multadas guseiras em Marabá: já vimos esta película antes.

As multas são na casa dos milhões e os prejuízos pelo fechamento na casa dos milhões também são.

O IBAMA diz que as ditas cujas estavam operando com a licença vencida. As ditas cujas alegam que não era bem assim.

O tragicômico disto é que, com ou sem licença, o passivo ambiental gerado é o mesmo.

Quem defende as guseiras diz que a atitude do IBAMA foi equivocada; que este ato de força só serve para afugentar quem quer investir no Pará, e deixar desestimulados os que já exercem a atividade.

Quem é contra as guseiras diz que a medida é acertada, pois a atividade é exercida de forma ecologicamente incorreta, gerando um passivo ambiental cujo quociente é bem menor que as quantidades envolvidas na conta.

Nesta ópera expressionista, os dois lados têm razão, à medida que a gênese e o apocalipse se fazem, ao mesmo tempo, neste outrora verde vago mundo.

Neste soar de trombetas que se confunde com o fiat lux, as carruagens de fogo são os caminhões de carvão, ainda em brasa, a descarregar nas fornalhas o que ainda ontem era floresta viva.

O caos vai acontecendo ao sabor da esperteza de uns e das paixões de outros: os uns, por serem mais vetustos na arte de sobreviver a qualquer custo, acabam levando vantagem em cima dos outros, que acreditam que poderão amolecer o feijão em fogo brando.

Os uns fazem a moda do desenvolvimento e do progresso. Da geração do emprego e da renda. Da distribuição da riqueza.

Os outros perguntam: desenvolvimento, progresso, geração de emprego e distribuição de riqueza para quem?

É um fato que este resultado não fecha de forma confortável, se a equação for montada sem sofismas. O Brasil, e mais particularmente o Pará, precisa, urgentemente, fazer esta conta, para, de forma eficaz, elaborar um plano de enfretamento à questão ambiental versus exploração mineral.

O Brasil precisa explorar as suas riquezas. Nesta matriz, é necessário desmistificar a idéia, que alguns tentam impor, de que o meio ambiente é um óbice ao desenvolvimento.

Nunca houve uma era pré-industrial onde todos eram felizes, quando o homem vivia em harmonia com a natureza: o homem sempre lutou contra a natureza, tentando moldá-la ao seu contento.

Todavia, é imperativo à sociedade moderna, e à empresa moderna, entender que a tecnologia estocada hoje, que serve para gerar riquezas, não pode ser uma ameaça à sustentação do eco sistema.

A responsabilidade sócio ambiental deve ser o limite da ganância. A preocupação com uma planta ecologicamente correta deve estar acima da perseguição do lucro, no ábaco do empreendedor.

Os guseiros, daqui a pouco, vão receber de voltas as chaves das portas e, como de praxe, recorrerão das multas.

Não obstante, precisam mudar o passo, para acertar o compasso: ou colocam na composição dos seus custos a mitigação do passivo ambiental que geram, buscando se adequar à legislação, ou vai chegar a hora que eles, de fato, terão que fechar as portas e pagar as multas.

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