Arrepia os cabelos a leitura da entrevista, publicada em “O Liberal”, neste domingo, concedida pelo doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo, André Roberto Martin.
O objeto da entrevista é apresentar o prejuízo que seria a divisão do Pará em três estados.
O pensamento de Martin, contrário à divisão, tem fundamentos tão capciosos que chegam às raias do proselitismo ariano.
Martin acusa o pacto federativo getuliano (compensação de representatividade política a quem tem menor poder econômico, que visava equilibrar a lógica proto colonialista do eixo norte-sul), como o grande beneficiado na operação.
Afasta a oportunidade da divisão do Pará, alegando, estoicamente, que o fato só aumentaria a representatividade do Norte, pobre, em detrimento do Sul, rico.
O seu pensamento de consolidação de conglomerados econômicos repete a cínica tese delfiniana de que é necessário concentrar riqueza para que ela vaze moedas em distribuição: nada mais anacrônico para um mundo em que o Consenso de Washington está cremado.
Para fundamentar a sua tese de que é preciso privilegiar o valor econômico, Martin comete uma inverdade geopolítica, ao dizer que “O modelo dos Estados Unidos é exemplar nesse ponto de vista, porque primeiro o território novo adquire uma certa densidade demográfica e econômica para depois ascender à condição de Estado membro da União”.
A formação territorial da federação norte americana não obedeceu a esta lógica: não se esperou colônia alguma ter consolidação econômica pois elas foram divididas do ponto de vista puramente estratégico territorial. Os demais estados seguiram o mesmo juízo e o último deles simplesmente foi adquirido com um cheque.
Notem o que o Doutor Martin diz em certo ponto: “Olha só, criou-se o Estado, a União é responsável pelos investimentos em educação, criam-se universidades federais nessas áreas. Será que Roraima e Amapá precisam de universidades? Será que está certo o governo federal fazer esse tipo de investimento? Não é um desperdício? Será que não seria mais vantajoso concentrar os investimentos em educação e universidades nas áreas mais densas da região, como Belém e Manaus?”
Ao ler isto eu levantei da poltrona, fiquei meio atordoado e fui olhar a paisagem para pensar: será que tudo o que eu aprendi sobre democratização e universalização do ensino está errado?
Eu sempre achei que a escola tem que sair dos seus muros e alcançar o estudante onde ele estiver. A República não pode medir esforços para colocar uma faculdade aonde exista gente a educar. Não é desperdício educar.
Se alguém que mora em Tucuruí, no Pará, não pode vir para Belém para cursar uma universidade, como um estudante de Roraima pode fazê-lo? Onde mora o doutor Martin, para achar que é possível vir de bicicleta de Macapá ao Campus do Guamá?
A entrevista então caminha para um anacoluto: Martin admite melhora nos índices gerais dos estados que se emanciparam, mas argumenta que é só porque eles se emanciparam...!?
Ato contínuo, como a querer corrigir o círculo, afirma que olhar somente a melhora do estado emancipado é descontextualizar a vista do país como um todo, e não ver o que ocorre a nível nacional.
Meu caro Doutor Martin, eu desconheço que o Rio Grande do Sul, ou o Piauí, tenham tido algum problema porque o Tocantins virou Estado.
Impressiona a pobreza conjuntural do doutorado de Martin, que o faz imaginar que, dividido o Pará, as duas unidades federativas originadas cortarão imediatamente o contato político econômico e financeiro com o originário, e Belém, como o maior centro da região, não mais receberá o fluxo cotidiano natural que já consolidou.
Ao contrário, a exemplo do que houve em outras divisões, o fluxo não só permanece como aumenta, pois com o aumento da circulação econômica do todo, o centro nervoso, que era a capital do estado, ganha valor agregado, passando a ser o ponto de convergência do aglomerado regional.
Daí pra frente a entrevista cai nos clichês: divisão é coisa das pequenas elites; o poder político destes novos estado será exercido pelas elites microrregionais e et caterva.
Termina a entrevista com falácias e má informação ao dizer que, nas divisões do Mato Grosso e Goiás, os estados originários saíram perdendo: não é verdade.
Ambos, desde a divisão, não perderam 1 centavo sequer de PIB e mantiveram o crescimento econômico médio que vinham obtendo, no caso de Goiás, com maior pujança.
Sinceramente, aos bizarros argumentos do doutor, chocam-me menos aqueles que se baseiam puramente no sentimento de que não devemos dividir porque somos a terra de ricas florestas fecundadas ao sol do Equador.
Seus argumentos não merecem um só reparo.
ResponderExcluirSou deste lado de cá do Pará, de Mocajuba, papa chibé, e muito indignado com o "O liberal" antecipando campanha contra a divisão.
Ele está, pasmem, distribuindo até adesivos para carros.
Não conheço legislação eleitoral, mas o plebiscito, de que trata ao § 3° do art. 18 da CF, não estaria por ela compreendido??
Elite ruim existe em qualquer lugar. Esse é um custo necessário que a população dessas regiões deve assumir. Nós não assumimos as nossas, por acaso?? Quem paga as propagandas oficiais no "O liberal" e no "Diário", péssimos veículos de comunicação?? Somos nós, pobres, ainda carentes de boa formação política.
Essa estória de perda de arrecadação é o cúmulo do egoismo.
Quer dizer: a gente não pode perder, mas o povo dessa região, sim!!!
Penso, também, como vc, quando acredita que não haverá perda. Pode até haver perda nominal, mas não percapta, já que o Pará restará menor, mas administrável.
Por fim, talvez a única razão do geógrafo. Aliás, neste ponto, ele argumentou em causa própria: haverá perda para os demais estados.
Mas será tão insignificante, que os benefícios justificam o desmembramento.
Penso que muita gente desse lado, após as discussões, votarão pelo desmembramento, sem incoerencia alguma.
Um abraço
Olá Reginaldo,
ResponderExcluirMuito obrigado pela participação. Como a maioria dos comentários estão sendo feitos na página inicial, de onde há a chamada para o artigo, e o seu comentário é de grande valor, peço-lhe que copie para lá, para que possa ser também lido lá.
Muito obrigado.
Assim como Vossa Excelência, tive que me levantar da frente do computador para espairecer.
ResponderExcluirComo é possível um doutor em Geografia reunir um arsenal de asneiras, completo desconhecimento da matéria e vomitar "achismos" absurdos como o do teor fétido desta entrevista?
Parabéns pelo seu artigo e veja bem deputados.
Eles, os espoliadores e neocolonilistas encastelados em Belém, tentam, mas, não vão conseguir, forçar-nos a revelar a nossa estratégia, visto que temos levantado todos os dados de viabilidade sócio-econômica, ou eles acham que somos alguns idiotas?
Parabéns pelo artigo que achei leve face os declabros enumerados pelo "doutor".
Abraços.
Olá Val-André,
ResponderExcluirObrigado pelo comentário. Infelizmente esta é estratégia de "O Liberal": acha que pode desconstruir a viabilidade da divisão com entrevistas de "doutores".
Olá meu Caro Parsifal,
ResponderExcluircertamente este doutor não conhece nossa realidade. Talvez até conheça pelas bibliografias, ou quem sabe até conheça pessoalmente nosso Estado... Mas claro, que as declarações dele não condizem com a vida e com a opinião predominate de quem vive no sul/sudeste e oeste do Pará, onde estão as riquezas minerais e energéticas deste Estado. Essa gente que fica a ver navios... (ainda sem a hidrovia araguaia-tocantins, rsrsr)
Agora cabe ao grande jornal que publicou esta reportagem contrária a criação dos Estados de Carajás e Tapajós fazer uma entrevista com alguém que seja favorável. Assim pede a ética jornalística e a 'imparcialidade' diante de tema tão relevante.
Abraços,
Marcelo
Olá Marcelo,
ResponderExcluirObrigado pelo comentário. Volte sempre.
Parabéns Dr. Parsifal, resido em Palmas/TO. e sei muito bem o que significa a divisão do estado, estes argumentos que o Pará sairá perdendo são muito fraco, eles não querem é perder o poder de utilizar os recursos provenientes do Sul do Pará da forma como eles bem querem.
ResponderExcluir