5 de out. de 2009

Publicidade ou propaganda?

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Os valores gastos com propaganda oficial têm vindo à baila na imprensa paraense.
 
As cifras são consideráveis. As desculpas para despendê-las são falaciosas. A justificativa de representarem um percentual desprezível da arrecadação é cínica, em se considerando que o valor absoluto das despesas poderia ser de maior proveito, se investido de forma menos inconsequente.
 
O Brasil é um dos poucos países, cujos governos, em todas as esferas da federação, fazem despesas com propagandas.
 
Os gastos com publicidade, que deveriam ser feitos com campanhas educativas ou informações de utilidade pública, tomaram a definição e o conceito de propaganda pura e simples: os governos se transformaram em vendedores de ilusões.
 
A propaganda oficial é tão contumaz na República, que a Carta Magna reservou um percentual da receita total, para que o gestor possa alardear os seus feitos: tornou-se um subterfúgio para promover governantes.
 
A desfaçatez é de tal monta, a ponto de não ser mais necessário realizar nada: basta ter um bom publicitário para embalar os sonhos do que o eleitor gostaria de ter, e colocar isto de forma que ele acredite que está tendo.
 
Não há administração que não tenha a sua parcela de propaganda, a fim de informar o distinto público de que tudo está uma maravilha.
 
Todos os meios são usados e abusados: do rádio à televisão; do jornal às revistas; dos outdoors à mala direta.
 
É pequena a parcela da imprensa nacional que não tenha uma agulha espetada no sistema venoso das finanças públicas.
 
Alguns se apoderam da jugular, transformando a propaganda na mais acabada forma de transferência de recursos públicos para o privado, sob a proteção de uma legislação leniente e de uma fiscalização descuidada.
 
Na propaganda oficial está um dos maiores canais de corrupção do Brasil. A soma dos valores surrupiados nos recentes escândalos de malversação de dinheiro público, seria percentual menor perto do que vaza através da verba de propaganda oficial.
 
Em estimativa apressada, o Brasil, através da União, estados, municípios e empresas públicas, torra em propaganda, por ano, algo em torno de cinco bilhões de reais. Nada disto é auditado ou fiscalizado.
 
O pior disto tudo vem a ser a ditadura do virtual. A maior realização de um governo passa a ser a sua propaganda, em uma elaboração que beira à obra dos irmãos Wachowski, a trilogia de Matrix: um mundo em que o ser humano vivia dentro de uma cápsula, onde, através de cabos, recebia a percepção virtual programada pelas máquinas.
 
A cápsula cibernética na qual vivemos são os canais de propaganda aos quais somos forçados a nos conectar.
 
Os que manejam estes canais nos alimentam com a versão por eles elaborada para ser a nossa percepção de realidade.
 
A quantidade e a frequência da propaganda a que somos submetidos, torna a percepção da realidade quase uma quimera.
Os alimentadores destes canais são os senhores da República, que, com os seus meios de financiamento, pagam a nossa ilusão.
 
A propaganda oficial sempre foi elemento decisivo em projetos de poder. O Brasil, não obstante, precisa discutir-lhe a forma e o custo absoluto, descolando-o do cínico percentual legalmente permitido, que foi escrito na Carta, por lobby de grandes grupos de comunicação.
 
É hora de o Brasil traçar uma densa linha que divida a informação, mensagem necessária, emitida à nação pelos governos, da propaganda pública, que há muito se transformou no maior elemento de corrupção de que dispõem as estruturas de poder montadas no País.

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