Quando as eleições ainda estavam em fase de construção de candidaturas, o PT já tinha um nome posto para o governo: Mario Cardoso.
O PMDB ainda cambaleava entre apresentar o nome de Jader Barbalho ou escolher dentre outros que o partido dispunha, porém sem a força e a representatividade eleitoral peculiar ao líder maior da sigla.
A União pelo Pará já se decidira por Almir Gabriel, que julgava imbatível nas urnas, emprestando-lhe a perspectiva de vitória em primeiro turno.
Não é segredo aos que acompanham os corredores internos das articulações eleitorais, que Jader Barbalho foi o artífice do deslocamento de Mario Cardoso para a disputa pelo Senado, abrindo a vaga para o encaixe do nome eleitoralmente mais viável: a Senadora Ana Julia.
O planalto endossou a arquitetura de Jader e convenceu os interesses diversos do PT de que aquela era a melhor solução para despejar o tucanato que se instalara há 12 anos no Pará.
Na engenharia, coube ao Deputado Federal José Priante, a missão de entrar em campo, no comando formal do exército peemedebista.
O objetivo das duas frentes que se formaram, capitaneadas pelo PMDB, com Priante e Ana Julia pelo PT, era levar a eleição para o segundo turno e, uma vez alcançada esta etapa a bom termo, unir as forças para travar a batalha final, seja quem fosse o vencedor do primeiro embate.
Diante da conformação do tabuleiro, ainda os tucanos alardeavam a liquidação da fatura em primeiro turno: acreditavam não ser páreo para Almir Gabriel, a força de oposição que se alinhou.
Os ventos da mudança, mote das campanhas de oposição, cismado na própria fadiga do material tucano, foram, de fato, o principal cabo eleitoral da oposição: quem conseguisse capitalizar de forma mais razoável a brisa que soprava, seria aquele que poderia alcançar o outro lado da longa meia-noite que se instalara no Pará.
É claro que o contingente do governo, com a teia de interesses e serviços que conseguiu tecer em 12 anos, deu sustentação espetacular ao candidato tucano, todavia, o erro de avaliação da União Pelo Pará foi exatamente na escolha do candidato: não intuiu a coalizão, tão pouco o próprio candidato escolhido, que o seu tempo já houvera passado.
Almir Gabriel no equívoco de tentar ser governador pela terceira vez, desprezando uma análise conjuntural mais despida das espumas que ele ainda julgava fazer em sua taça de champanhe, entornou ao chão o mito que construíra na messe tucana: com a derrota ele tende a perder a referência política que fora até então.
Pior que isto, a sua derrota, por vias óbvias, se transformou na vitória daquele que ele, de forma casmurra, escolheu como seu arquiinimigo político, Jader Barbalho.
Jader Barbalho, ao manejar o retrato da sucessão de Simão Jatene, estava, de fato, mesmo em tendo sido isto subseqüente, preparando o prato frio que seria servido a Almir Gabriel: uma refeição que este não imaginou digerir.
Nada disto diminui o mérito do PT e da governadora eleita, que avançou com dificuldades imensas em cada milímetro do território conquistado, fazendo com que a União pelo Pará, que se não era apenas uma coalizão de interesses do governo, busque sobrevivência na oposição.
Não é de se esperar que esta oposição se faça com todos os membros da coalizão: é praxe que haja movimentação de tropas, induzida pela força centrípeta do poder.
A política é uma manifestação apaixonada da alma humana e suas idiossincrasias mais esquisitas.
Ao cabo, nas festas do sucesso todos devem reivindicar um quinhão do bolo, afinal, a vitória tem muitos pais.
Na solidão do infortúnio, embora tenha doído em muitos a bordoada, todo o peso da desdita cai somente nos ombros de quem ousou ignorar os tempos, pois a derrota é órfã.
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