Na quarta-feira passada, 23.05, a Fundação Vale do Rio Doce apresentou um estudo intitulado "Diagnóstico Integrado em Socioeconomia no Sudeste do Pará", indicando que a região é, potencialmente, a mais rica do Estado.
Potencialmente é um termo dúbio, mais afeito a oráculos que a cenários: desde quando ainda galos cantavam nos quintais, eu ouço esta coisa de que o Brasil é um país com um grande potencial.
A pujança econômica do Sudeste do Pará é vista a olhos nus, se usarmos os mesmos óculos que Adam Smith usou, quando escreveu "A riqueza das nações".
A Vale do Rio Doce, talvez, queira que o contribuinte interprete os dados como tendo sido ela a grande responsável pela proximidade dos números do Sudeste paraense, com os da capital, que ainda concentra o maior PIB do Pará.
Vai mais longe na bondade e dobra os sinos do progresso ao anunciar que isto não é nada perto do que virá: mais investimentos em projetos de mineração na região, farão com que o sudeste tenha crescimento médio de 20% até 2010.
A diretora superintendente da Fundação Vale do Rio Doce, Olinta Cardoso, define o trabalho como "um grande esforço de mudança" que a CVRD está fazendo para o desenvolvimento econômico do Estado.
O estudo demonstra o combustível da economia do sudeste paraense: agropecuária e mineração e, ao final, conta como a mineração é uma panacéia para a economia e para a distribuição de renda: os municípios da área sob influência dos projetos minerais da Companhia Vale do Rio Doce têm o maior PIB per capita do Pará.
Um estudo da mesma Diagonal, se encomendado para mostrar a miséria, a má qualidade de vida, o péssimo IDH e o espantoso passivo ambiental do Sudeste do Pará, teria a mesma confiabilidade, afinal, pujança econômica e desenvolvimento humano não estarão na mesma proporcionalidade se o modelo estiver equivocado.
A Vale do Rio Doce, em que pese os investimentos feitos no Pará, e não para o Pará, está para o estado mais ou menos como estava a britânica Companhia das Índias Orientais para a Índia colonial: tão poderosa na colônia que até tinha o seu próprio exército. Levou luxo e riqueza à Índia, mas somente para os ingleses que lá se instalaram. Os nativos e a plebe de sua majestade curtiam a miséria de estarem à margem do PIB imperial.
O Pará não soube elaborar uma agenda inclusiva na esteira da distração desenvolvimentista do seu Sudeste. A coisa ali se deu, de novo, à inglesa, na base do laissez-faire e, até hoje, a região é terra de ninguém: o Estado não chegou lá e só contabiliza o PIB.
A agropecuária é extremamente centralizadora de renda. A renda gerada pela mineração não alcança a massa populacional. Esta nem sabe o que são estes números divididos por um valor econômico, cujo quociente lhe dá uma renda per capita de R$7.000,00: alguém precisa lhe entregar este salário nunca visto.
A Vale do Rio Doce precisa fazer algo mais pela inclusão social do que estudos com números verdadeiros mas de resultados inclusivos falaciosos.
A questão social não é responsabilidade exclusiva da empresa, que precisa dar satisfação aos seus acionistas com lucros, mas, alguém precisa lhes dizer que responsabilidade social vai muito além de patrocínio de eventos e saraus.
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