15 de jan. de 2007

Pobreza e meio ambiente




Uma mineradora fez uma barragem de terra no seu canteiro. O Estado de Minas Gerais autorizou a atividade.

A chuva rompeu a barragem e o dilúvio de lama rio abaixo foi a crônica da semana nos noticiários do Brasil: mais um desastre ambiental causado por atividades mal dimensionadas pela empresa privada e mal fiscalizadas pelo poder público.

A reação do Estado na responsabilização objetiva da empresa é tão inócua quanto o discurso que ouvi outro dia de uma autoridade ambiental.

O estado de Minas Gerais, multou a empresa em R$50 milhões. Dois dias depois, quando a imprensa rebatia as lamúrias dos desabrigados, a multa foi aumentada para R$75 milhões.

O que eu ouvi de uma autoridade ambientalista em uma entrevista televisiva é que os brasileiros deveriam ser mais conscientes: fazer como os holandeses em Amsterdã, que usam bicicletas para quase tudo, consumir menos, gerar menos lixo.

O Estado e o ambientalista estão equivocados: a empresa nunca vai pagar a multa, como não pagou a anterior: ela é reincidente. São Paulo não é Amsterdã para o fulano sair de São Mateus à Ipiranga de bicicleta.

Deu-me vontade de ligar ao programa e perguntar se ele tinha ido de bicicleta para a entrevista, vestido com aquele terno alinhado que ele consumiu.

A questão ambiental está ligada diretamente à responsabilidade do Estado em encontrar uma equação que conduza a atividade econômica ao encontro do ecologicamente correto.

Tal equação só poderá ter um quociente factível, se o Brasil enriquecer, aumentando a renda per capita do cidadão.

Não é novidade que quanto mais pobre o país e mais mal distribuída a renda, maior será o dano ambiental causado na atividade da sobrevivência: o ser humano não hesitará em matar e comer o último exemplar de uma espécie se a sua barriga estiver roncando e ele não tiver outra opção.

Não se pode esperar, sob pena de um romantismo inconseqüente, que os senhores do planeta queiram reduzir os seus lucros ou absorver os custos dos seus preços, em nome da questão ambiental: eles até podem vir a ser ecologicamente corretos, mas, alguém tem que pagá-los para isto.

Portanto, o programa ambiental que o Brasil precisa implementar é a geração de riqueza e a distribuição de renda com o equilíbrio sugerido acima.

Faça-se o que fizer, diga-se o que disser, há um fato incontestavelmente cruel e efetivamente incontornável: não há como implementar o equilíbrio ecológico em um país em que mais da metade da população não tem esgoto sanitário e nem recebe água tratada.

O custo do ecologicamente correto, dentro da matriz econômica que o mundo adotou como modelo é alto.

Precisamos ter renda per capita razoável para arcar com os custos do equilíbrio ambiental que deverão ser embutidos nos produtos e serviços que o consumo moderno nos impõe e dos quais não queremos abrir mão.

Sem crescimento econômico vamos continuar como o cachorro que roda atrás do rabo e, pelo passo da dança, o rabo vai acabar mordendo o cachorro.

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