Artigo escrito em 1996, por ocasião de um ataque do exército russo na Chechênia, publicado em “O Diário do Pará”
O contra ataque soviético na Segunda Guerra foi decisivo à vitória dos aliados. Os alemães marcharam sobre Paris. Os russos vingaram De Gaulle: marcharam sobre Berlim.
Eu devia ter 14 anos quando li “Kadji Murát”, de Leon Tolstoi: foi quando eu fui apresentado à Chechênia e a região do Cáucaso.
O livro conta a saga de Murat, um Khadji (título dado aos muçulmanos que já fizeram a "khadj", que é a peregrinação às cidades santas de Meca e Medina) que foi um dos principais capitães do Íman Shamil, que liderou, no início do século XX, as rebeliões chechenas contra a Rússia, que nunca lhes dispôs o território.
A leitura do “Khadji Murát” ajudará os que têm interesse em saber algo mais sobre a Chechênia e sua luta contra os russos.
As batalhas russas são prenhes de heroísmo e atos de bravura de seus generais.
Uma das páginas mais belas que já li foi a defesa, feita pela esposa do General Stoessel - as esposas dos generais russos os acompanhavam nas guerras -, quando ele foi julgado pela derrotado russa em Porto Arthur.
Leio nos jornais que os generais russos, enviados por Moscou para conter o avanço dos chechenos para fora das suas fronteiras determinadas, em aberto desafio ao Kremlin, se recusaram a avançar contra a resistência, alegando que os rebeldes eram homens, mulheres e crianças contra os quais não abririam fogo..
O General Babichev, comandante de uma coluna blindada russa e o primeiro a tomar tal atitude, foi categórico:
- Os líderes russos podem nos condenar, mas não vamos atirar nem usar tanques contra o povo.
A decisão foi tomada após a visão do general, que teve a sua coluna de blindados barrados por centenas de mulheres chechenas que declararam que os tanques só avançariam se passassem por cima dos seus corpos.
Em tempos como os nossos não mais se pode justificar o colonialismo. Todos os povos têm seu direito a autodeterminação assegurados.
Os generais que se recusam a avançar sobre a Tchetchênia, mais uma vez provam o valor, a coragem e a intrepidez dos russos.
Acabei de ler esse livro e é exatamente esse o meu sentimento.
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