Os valores gastos com propaganda oficial no Brasil precisam sofrer redução imediata, e o quociente disto deve ser investido em serviços de maior proveito social.
As cifras despendidas são consideráveis. As desculpas para despendê-las são falaciosas. A justificativa de representarem um percentual desprezível da arrecadação é cínica, em se considerando que o valor absoluto das despesas poderia ser de maior proveito, se investido de forma menos inconsequente.
O Brasil é um dos poucos países, cujos governos, em todas as esferas da federação, fazem despesas com propagandas.
Os gastos com publicidade, que deveriam ser feitos com campanhas educativas ou informações de utilidade pública, tomaram o conceito da propaganda pura e simples: os governos se transformaram em vendedores de versões, existam ou não fatos para serem propagados.
A propaganda oficial é tão contumaz, que a Carta Magna, as constituições estaduais e as leis orgânicas municipais reservam um percentual da receita orçamentária, para o gestor alardear os seus feitos: tornou-se um instrumento para promover governantes e não um elemento de informação do governo.
Quase não é necessário realizar: basta ter um bom publicitário, contratar um empresa de publicidade para embalar os sonhos do que o eleitor gostaria de ter, e colocar isto de forma que ele acredite que está tendo.
Não há administração que não tenha a sua parcela de propaganda, a fim de informar o distinto público de que tudo está uma maravilha.
Todos os meios são usados e abusados: do rádio à televisão; do jornal às revistas; dos outdoors, que poluem visualmente a cidade, à mala direta.
É pequena a parcela da imprensa nacional que não tenha uma agulha espetada no sistema venoso das finanças públicas, à guisa de publicidade.
Alguns se apoderam da jugular, transformando a propaganda na mais acabada forma de transferência de recursos públicos para o privado, sob a proteção de uma legislação leniente e de uma fiscalização descuidada.
Na propaganda oficial está ainda um dos maiores canais de desperdício de dinheiro público: estima-se que a União, estados, municípios e empresas públicas, torram em propaganda, por ano, algo em torno de cinco bilhões de reais.
Está construída uma ditadura virtual. A maior realização de um governo passa a ser a sua propaganda. Isto beira a obra dos irmãos Wachowski, a trilogia Matrix: um mundo em que o ser humano vivia dentro de uma cápsula, onde, através de cabos, vivia a percepção virtual programada pelas máquinas.
Cá, fora do cinema, a cápsula cibernética na qual vivemos são os canais de propaganda aos quais somos forçados a nos conectar na sociedade midiática.
Os que manejam estes canais nos alimentam com a versão por eles elaborada para ser a nossa percepção de realidade.
A quantidade e a frequência da propaganda a que somos submetidos, torna a percepção da realidade quase uma quimera.
Quando a propaganda é a dos governos, os alimentadores destes canais são os senhores da República, que, com os seus meios de financiamento, pagam e alimentam a nossa ilusão.
A propaganda oficial sempre foi elemento decisivo em projetos de poder. O Brasil, não obstante, precisa discutir-lhe a forma e o custo absoluto, descolando-o do cínico percentual legalmente permitido, que foi escrito na Carta, por lobby de grandes grupos de comunicação.
É hora de o Brasil traçar uma densa linha que divida a informação, mensagem necessária, emitida à nação pelos governos, da propaganda pública, que há muito se transformou em um dos maiores elementos de desperdício de dinheiro público de que dispõem as estruturas de poder montadas no País.
Os governos precisam aceitar que a melhor propaganda que eles podem fazer de si mesmos é a busca da excelência dos serviços que devem prestar.
Qualquer outra coisa tem um quê de Goebbels: ninguém merece.
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