7 de mai. de 2007

Cantigas dos esponsais

Detalhe de um cartaz do filme Amadeus, de Milos Forman. A figura representa o frustrado músico Salieri

Cantigas de Esponsais, conto de autoria de Machado de Assis, publicado em 1884, conta a estória de Romão Pires, um maestro que chegou aos sessenta anos com o sentimento doloroso da frustração.

A razão daquilo era que Romão, apesar de ter sido um ótimo regente, não conseguia compor. Pior: trazia dentro de si belíssimas composições, tinha óperas inteiras em sua mente, chegava a ouvi-las ecoando quando se colocava a cismar, porém não conseguia escrever aqueles sons.

Romão desesperava. Não conseguia compor. Suas óperas etéreas ainda devem ecoar pelo vento, jamais, todavia, alguém poderá ouvi-las, pois o desditoso Maestro Romão Pires morreu sem conseguir compor uma nota sequer.

Sempre temos ouvido falar do imenso potencial do Pará, que tem também as suas óperas e todo um conjunto de harmonias naturais que uma vez compostas seriam ouvidas por todo o Brasil, mas, como o maestro machadiano, não tem conseguido compor.

A melodia só ecoa em nossos próprios ouvidos e em conseqüência disto chegamos talvez àquela idade em que a frustração começa a tomar conta dos nossos corações e a esperança, que é o combustível da resistência, acaba-se deixando conquistar pelo desamor.

O Pará tem cedido a sua própria fadiga estrutural. Se deixado vencer pela inércia, que acaba se fazendo mais forte que as forças que a ela se deveriam contrapor.

Este processo, seus elementos e personagens, com rara exceção, remonta por gerações: maestros que só souberam tocar as músicas já compostas, sem terem tido a aptidão de compor a própria melodia.

Isto não tange somente aos políticos, que na inteligência popular são os culpados de todos os males. Todos, políticos, empresários e intelectuais, são sujeitos deste processo.

Mas o Pará pode e deve sair disto.

É preciso criar: o potencial desaproveitado é a frustração da alma que o contém.

É preciso ousar: a ousadia tem sido a tinta com a qual a história tem escrito suas páginas.

É preciso agir: a agonia tem gerado heróis ao longo da sobrevivência humana.

Estas três notas podem gerar os três elementos necessários para se começar a escrever a nova melodia paraense: o projeto, a execução e a mudança, precisam aparecer na partitura.

Uma nota mais aguda se deve unir àquelas: a urgência, pois o mundo vive uma época bizarra na qual o que não urge perde.

Ou, podemos permanecer sentados na cadeira de balanço, olhando o horizonte, curtindo as nossas frustrações que, neste caso, tem sido a prima mais próxima da nossa incompetência.

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