Mais uma vez a revista britânica The Economist mete o dedo na pia de água benta em que, segundo o Presidente Lula, se transformou a Amazônia.
Nesta semana, a revista aposta que é “quase impossível para o governo brasileiro controlar o desmatamento e a exploração da floresta Amazônica, já que praticamente não há controle sobre a propriedade de terras na região”.
É curioso e sugestivo o título da reportagem: "Bem-vindo a nossa selva que encolhe". Eu negritei o nossa.
A The Economist, tira sarro com o Ministro Minc, chamando-o de o “hiperativo ministro do Meio Ambiente”, ao comentar-lhe o plano que prevê, a partir de julho, negar acesso a financiamentos e cortar subsídios de fazendeiros que não apresentarem documentação adequada de suas terras.
O plano do Ministro Minc vai mais além: se em quatro anos os donos das moto serras não apresentarem as suas respectivas cartas de propriedade, as terras que ocupam serão confiscadas.
Se assim fosse, e assim não será, já em julho 90% dos possuidores perderiam acesso aos financiamentos e subsídios e, dentro de quatro anos, a República lhes confiscaria a posse.
É um fato incômodo ao empresariado rural, a constatação de que grande parte de suas propriedades não resiste a uma pesquisa séria de cadeia dominial visando legalização: a Amazônia, quando começou a fase do vale tudo, era pasto farto aos grileiros de todo gênero.
Voltando a The Economist, a reportagem lavra que, devido às peculiaridades amazônicas e à carência de estrutura de fiscalização do Brasil, “na prática é quase impossível para o governo impor sua vontade nos limites de seu império, mesmo se quisesse”.
O “mesmo se quisesse”, lido com as letras que a revista quis significar, sugere que o Brasil não quer tomar as providências necessárias para por ordem na casa, preferindo dar eco sustenido à grita reacionária dos produtores rurais que montaram as suas matrizes e mentalidades na época, não tão remota, em que bancar o Nero era heroísmo e o slogan vigente era o de que a Amazônia seria desenvolvida sob as patas do boi.
Nada contra os bois, todavia, a forma como as patas pisam precisa mudar, assim como o discurso da reação: os dois estão absolutamente anacrônicos e servem mais à causa do Sul norte-americano à época da Guerra da Secessão do que ao século 21 que eles ainda não se aperceberam que chegou há sete anos.
A The Economist relata o aumento das queimadas no primeiro trimestre de 2008 e sugere que "pode haver uma ligação entre o alto preço de commodities e o desmatamento, com intervalo de cerca de um ano."
Afirma ainda que embora a soja não seja plantada na floresta, a atividade contribui com o desmatamento à medida que “empurra os criadores de gado para ela”.
É um fato que o Brasil é pressionado, de forma articulada, a dar melhor cuidado à pia de água benta.
Resmungar e ficar denunciando complôs internacionais como forma de defesa é pura ingenuidade protonacionalista: a única forma de ratificar a nossa soberania sobre a parte que nos cabe deste latifúndio é colocando ordem nele.
Se o Brasil continuar dando ouvido ao discurso atrasado de setores do agro business que acreditam piamente que são os arautos do desenvolvimento, os sinos só vão continuar dobrando para eles e, ao final, de tanto balançar, o bronze cairá na cabeça de todos nós, assim como caiu a desordem imobiliária americana nas costas de todos os sobrinhos do Tio Sam.
O motivo, tanto lá quanto cá, é um só: o modelo não tem sustentabilidade.
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