Quando chegamos a Tel Aviv fui abordado, na pista do aeroporto, por 03 soldados israelenses, de metralhadora em punho: eles devem me ter achado com cara de árabe, principalmente com a barba há uma semana sem fazer, desde Istambul.
Quando eles constataram que éramos brasileiros, o tratamento mudou do ríspido para o gentil, chegando às raias da delicadeza.
A caminho de Jerusalém, em uma destas conveniências de rodovias, olhei um broche no balcão, feito de duas bandeiras que se cruzavam: as bandeiras do Brasil e de Israel.
Comprei dois e espetei um em mim e outro em Ann: isto passou a ser o nosso cartão de visitas. Até sobremesa de graça tivemos por sermos brasileiros.
Na Palestina, fomos a uma feira, em Jericó: eu queria comer frutas como almoço.
Quando Ann escolhia uma banana em uma banca, um sisudo senhor de meia idade apontou-lhe o broche ao peito e disse algo. Eu me sobressaltei, pois esquecera de tirá-lo quando entramos em território da Autoridade Palestina: a bandeira de Israel não seria bem vinda ali.
Tentei desconversar. O vendedor insistia e apontava, no broche, a bandeira do Brasil.
Compreendi então, que, ao largo de estar na nossa roupa uma bandeira israelense, ali também estava o nosso pendão.
Ao ouvir a confirmação de que éramos brasileiros, ele abriu um enorme sorriso, falou de alguns jogadores de futebol e nos deu as bananas de presente. Eu insisti querendo pagar, ele escondeu as mãos, recusando.
Ann avermelhou os olhos. Agradecemos ao feirante com mesuras mil e saímos rumo aos restos das muralhas de Jericó, que, de acordo com Josué, com a ajuda de Deus, os israelitas colocaram abaixo, ao som de trombetas, para conquistarem a terra de Canaã: a confusão já era grande por lá antes de nascer o Cristo.
Os brasileiros são queridos no Oriente Médio: ser brasileiro é a senha para ser bem recebido nas mais diversas mesquitas ou em qualquer sinagoga.
Por isto, é assaz doloroso assistirmos o que ocorre entre judeus e palestinos. Não me agrada tomar partido: a guerra impinge sofrimento a todos.
A bem da verdade, Israel não se faz ora em guerra com a Palestina: comete um impiedoso ataque de força bruta. Todavia, não se deve eximir o Hamas do infortúnio por que passa o povo palestino.
Israel se excede na reação aos ataques do Hamas, todavia, o Hamas sabia que Israel sempre se excede: onças não se cutucam com varas curtas.
Para o mundo que vive em relativa paz, é prudente dizer que Israel se excede. Para Israel, talvez seja imprudente não se exceder.
Para nós, que não vivemos o núcleo nervoso da saga do Oriente Médio, é pertinente classificar a contenda de estúpida e irracional. Para quem nasce na incontrolável sanha bíblica da região, a guerra passa a ser uma determinação atávica.
O Ocidente, metido a civilizado frente à barbárie que vem do Leste, não se dá conta que a insensatez tanto está no general que marcha sob a Estrela de Davi, quanto nos que empunham o quadricolor pendão palestino.
A essência do sangue não é material, embora as vítimas o sejam. O que determina o furor é a vindita, o rancor eterno: não há acordo de paz que sele a sede de vingança.
Israel sabe disto, por isto prefere aniquilar o inimigo, para que ele faça a paz por necessidade eventual.
O pior de tudo, é que as coisas na região perderam a causa original.
Yasser lutava por uma causa; Moshe Dayan também: por isto os dois foram senhores da guerra e promotores da paz.
O Hamas, assim como os líderes atuais do Estado Judeu, como nós outros, lutam apenas por poder: usam a causa do povo como instrumentos das duas respectivas guerras.
Yasser e Dayan mereciam admiração. Os nós outros só merecem respeito, ou, estaremos sujeitos as suas respectivas infantarias.
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