O Presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvilli, teve uma péssima idéia ao tentar recuperar o território da Ossétia do Sul.
Somente uma mente abaçanada poderia imaginar que, pelo fato de Putin estar em Pequim, apreciando a abertura das Olimpíadas, o movimento georgiano passaria despercebido: desde que Hitler traiu o pacto de não agressão com Stalin, a Federação Russa jurou a si mesma não confiar em mais ninguém.
Somente uma debilidade mental, autorizaria alguém a concluir que o efetivo georgiano, de 32 mil homens, poderia fazer frente à armada que a Rússia dispõe por trás do Cáucaso, de 900 mil homens.
Pensou pior, Saakashvilli, se contava com a solidariedade física dos EUA: eles adoram exercer os seus delírios imperiais, mas, não estão dispostos a ensaiar escaramuças nos perigosos quintais da velha União Soviética.
A política russa no que tange à autonomia da periferia do Cáucaso é parecida com a da China com as suas possessões: nem sonhar.
A reação russa à ousadia georgiana de reaver a Ossétia do Sul foi real e imediata. Como se trata da Rússia, foi desproporcional.
O desfile dos tanques cirílicos pelo território georgiano, cuspindo fogo a quem lhes olhasse torto, era um recado: somos drasticamente contra as tendências ocidentais do Presidente Saaskashvilli.
O Presidente da Geórgia, quando viu a confusão em que se meteu, apressou-se em assinar o cessar fogo que ele iniciou, mas, como estas coisas precisam ter duas assinaturas, enquanto Medvedev não lavrava a sua, Putin aproveitou para lançar os seus tanques sobre Gori, cidade industrial situada a 70 km da capital georgiana, Tbilisi.
O recado de Putin a Saaskashvilli: nunca mais se atreva a entrar em território russo, ou ponho a infantaria russa na sua capital em 24 horas.
Passada a refrega, estrategistas internacionais se perguntam por que Moscou agiu de maneira tão ousada no episódio.
A resposta da maioria é que a Rússia aproveitou o blefe de Saaskashvilli para testar a atual fraqueza política dos países democráticos.
Não se pode desconsiderar, também, a influência do petróleo: o segundo maior oleoduto do mundo passa através da Geórgia e a Rússia não quer isto sob o controle absoluto do Ocidente.
Além do mais, com o seu crescente processo de romanização, os EUA se vêem obrigados a manter tropas nos mais esquisitos pontos da Terra, o que os enfraquece frente a uma potência real, como a Federação Russa, que pode estar vendo este como o momento certo para romper as confortáveis relações amistosas que não lhe tem sido tão úteis estrategicamente.
Alguns discordam desta visão por acharem que, embora a Rússia possa ter ganhos estratégicos, terá prejuízos econômicos com a recidiva do eixo Leste Oeste, o que é contestado por aqueles que apostam em um novo alinhamento pró Rússia, de países que estão ressentidos com os EUA.
Os americanos irritaram os sauditas ao montar uma democracia xiita no Iraque, enfureceram os turcos quando apoiaram os curdos e enfraqueceram a OTAN ao permitirem o ingresso de países sem estrutura para tal, afirma o expert em geopolítica da Universidade da Califórnia, Jeffrey Nyquist.
Por isto, continua Nyquist , as lideranças russas provavelmente sentem que é chegada a hora de virar tudo e revelar as fraquezas americanas.
No fundo, Putin peitou Bush e a OTAN juntos: provou que ambos não tiveram tutano suficiente para mandar tropas para a Geórgia.
De quebra, mandou um recado: quando poderia apenas rechaçar uma agressão pífia, invadiu a Geórgia, avisando aos EUA que estes poderão se confrontar com os mesmos tanques caso o Irã seja invadido.
Ao final, os amigos ocidentais de Saaskashvilli devem estar uma fera com ele: a sua sandice só serviu para expor as fraquezas ocidentais diante do crescente realinhamento russo no Médio e Extremo Oriente.
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