Quando Mr. Negroponte, fundador do MediaLab, lançou o projeto de um laptop por aluno, ousei escrever um artigo rejeitando a idéia como impertinente.
A revista VEJA da semana passada, apresentando o ranking dos países com alunos mais preparados no ensino básico e fundamental no mundo, apresentou a Finlândia no topo da lista.
A Finlândia tem escolas simples e não adotou o programa de um computador por aluno: investe na formação dos professores, que, aliás, não são os mais bem pagos do mundo, o que, também, desmistifica o dito de que salários altos são corolário de boa produtividade.
Coincide com a matéria da VEJA, a publicação, pela UNICAMP, de uma pesquisa sobre o uso de PCs nas escolas: conclui a pesquisa que o uso intenso de PCs piora o desempenho escolar.
As revelações da pesquisa são desconcertantes para quem defende a computadorização das escolas: os estudantes que disseram sempre usar o computador, independente da classe social ou disciplina, tiveram desempenho pior do que aqueles que nunca usaram.
“Os resultados mostraram, por exemplo, que na 4ª série os estudantes de classe alta que raramente usaram o computador para as tarefas tiveram, em média, 15 pontos a menos do que os que nunca o fizeram, tanto em português quanto em matemática”, diz a pesquisa.
Prossegue a pesquisa que “entre os alunos mais pobres que usaram computador, mesmo que raramente, houve uma piora mais acentuada nas notas em relação aos estudantes que nunca usaram PCs”.
Os dados utilizados pelos pesquisadores foram os do Sistema de Avaliação da Educação Básica, aplicado em todo o Brasil a alunos de 4ª a e 8ª séries do fundamental e da 3ª série do ensino médio.
O MEC dever-se-ia debruçar na pesquisa antes de levar em frente, pela segunda vez, a licitação de 150 mil notebooks de baixo custo para distribuir a alunos do ensino fundamental de 300 escolas do país.
Luiz Aquino, assessor da Presidência da República, que coordena o dito projeto, ao ser indagado sobre os resultados da pesquisa da UNICAMP, disse que seguirá em frente e medirá o desempenho dos alunos após o uso das máquinas, “piora eu tenho certeza que não vai acontecer. Nosso modelo é diferente", disse Aquino: a priori, então, acha ele que os pesquisadores leram os dados errados.
Na conclusão, a pesquisa aconselha que os "resultados devem inspirar profundas interrogações entre todos aqueles que apóiam o uso de computadores no sistema escolar".
Jacques Wainer, um dos coordenadores da pesquisa, arrisca que "como o computador é bom para nós, professores, por exemplo, tendemos a achar que ele é útil para todos. Mas ele não é uma solução mágica para a educação".
Pelo andar dos bits, pode até o projeto Um Computador por Aluno não ser uma solução para a educação, mas, com certeza, o é para quem ganhar as licitações.
Você por ler aqui a pesquisa na íntegra.
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