O PFL já tem o seu trotskysta: Cláudio Lembo, atual governador de São Paulo. Ele era vice até o dia em que Geraldo Alckmin renunciou para ser o candidato do PSDB à Presidência da República.
Marcos Willians Herba Camacho, vulgo marcola, capo do PCC, que de dentro da penitenciária governa a outra república, a do crime organizado, foi o responsável pelo discurso vermelho do Governador Lembo.
Pudera. São Paulo virou notícia negativa no mundo inteiro: do jeito que a imprensa adora. Ganhou até manchete na renomada revista britânica The Economist, a torá do capitalista engajado.
Adorei a entrevista do Lembo à colunista da Folha de São Paulo, Mônica Bergamo. Abaixo transcrevo os trechos dignos de Trotsky:
"Folha - O que pode dizer para um jovem de 15 a 24 anos, que vive em ambientes violentos da periferia?
Lembo - (...) Tem duas situações muito graves: a desintegração familiar que existe no Brasil e a perda... (de qualquer) regramento religioso (...). Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa. Que ficou assustada nos últimos dia. E que deu entrevistas geniais para o seu jornal. Não há nada mais dramático do que as entrevistas da Folha [com socialites, artistas, empresários e celebridades] desta quarta-feira. Na sua linda casa, dizem que vão sair às ruas fazendo protesto. Vai fazer protesto nada! Vai é para o melhor restaurante cinco estrelas junto com outras figuras da política brasileira fazer o bom jantar (...).
Folha - Onde o senhor responsabiliza essas pessoas?
Lembo - Onde? Na formação histórica do Brasil. A casa grande e a senzala (...). O cinismo nacional mata o Brasil (...). O que eu vi [nas entrevistas para a Folha] foram dondocas de São Paulo dizendo coisinhas lindas. Não podiam dizer tanta tolice. Todos são bonzinhos publicamente. E depois exploram a sociedade, seus serviçais, exploram todos os serviços públicos (...). A bolsa da burguesia vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social brasileira no sentido de haver mais empregos, mais educação, mais solidariedade, mais diálogo e reciprocidade de situações.
Quando a Folha perguntou a Lembo sobre o que FHC houvera dito sobre um possível acordo entre o governo de Lembo e o governo do Marcola:
Lembo - (...) Fernando Henrique poderia ter ficado silencioso (...). Pode ser que eventualmente ele tenha precedente sobre acordos. Eu não tenho.
Folha - Alckmin telefonou para prestar solidariedade?
Lembo - Dois telefonemas (...). Acho normal. Os pulsos [telefônicos] são tão caros...
Folha - E o José Serra?
Lembo - Não telefonou (...).
Folha - As autoridades paulistanas garantiram, nos últimos anos, que o PCC estava desmantelado. Enganaram os paulistanos?
Lembo - Não saberia responder. Eu não engano. Ganhamos uma situação mas é um grande risco. Temos que ficar muito atentos.
Folha - Pode dizer que o PCC acaba até o fim de seu governo?
Lembo - Só se eu fosse um louco. E ainda não estou com sinal de demência (...).
Folha - O Fernando Henrique não telefonou?
Lembo [irônico] - Não, não. Ele estava em Nova York. [sério] O Presidente Lula telefonou, foi muito elegante comigo (...)."
Pergunto, ao cabo: será que o Governador Lembo, antes de ser acossado pelo líder cult do crime, marcola, não vivia a brindar loas a esta burguesia nacional, composta por esta minoria branca e perversa, que ele quer que comece a abrir a bolsa?
Não é tão fácil assim, resistir ao discreto charme da burguesia.
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