Bento XVI é o terceiro Papa da era moderna a visitar o Oriente Médio.
O primeiro foi Paulo VI, em 1964, quando parte de Jerusalém estava sob o domínio da Jordânia.
O segundo foi João Paulo II, em 2000, que depositou em uma das fendas do Muro das Lamentações, um pedido de perdão, escrito de próprio punho, aos judeus: “Deus dos nossos pais, escolheste Abraão e seus descendentes, Isaac e Jacó, para levar Vosso nome às nações. Sentimos imensa tristeza pelo comportamento daqueles que, através da história, causaram sofrimento a esses seus filhos e pedimos o Vosso perdão. E desejamos que nos comprometa em verdadeira fraternidade com o povo dos Mandamentos".
No mesmo local onde hoje está o dito muro, ergueu-se um dia o Segundo Templo, onde Jesus surpreendeu os sábios com Seus conhecimentos do Pentateuco.
Como os demais, Bento XVI declara que está indo como um peregrino, na mesma fé que tangeu milhões desde a Idade Média.
Faz questão, ciente da sua responsabilidade pontifícia, de assim declarar, para que não paire dúvida alguma de que caminha para o Oriente como um líder religioso e não como um chefe de Estado: as tentativas de chefes de Estado no Oriente têm sido catastróficas desde a Primeira Cruzada.
Ir ao local do nascimento de Cristo é uma experiência única. Jerusalém é uma experiência única.
O local é sagrado para três grandes civilizações. Os judeus, por David; os mulçumanos, por Maomé; os cristãos, por Jesus: todos estes excepcionais líderes religiosos vieram ao mundo e dele se foram naquela imediação.
O papa, antes de deixar Roma, declarou que iria “à terra que é sagrada a cristãos e judeus, pois nela estão as raízes da nossa fé”.
Porém, como os demais papas, Bento XVI pisa em terreno cáustico ao trilhar a Terra Santa, desde a Jordânia.
Os palestinos, por exemplo, olham Sua Santidade com reservas, por ter ido a Auschwitz orar pelos judeus e não ter, até hoje, tido uma atitude clara para com Gaza, que sofre mazelas não similares, mas correspondentes, desde Israel.
Sob este aspecto, longe de surtir o efeito desejado – aproximar árabes e israelenses – Bento XVI acaba pondo brasa em suscetibilidades que já ardem.
O Vaticano ajudou na cizânia ao recusar, por motivos de segurança, a inclusão de Gaza na peregrinação papal: lá há uma única igreja católica com cerca de 300 fiéis.
O fato é que a visita de Bento XVI à Terra Santa não terá a conotação religiosa que ele quer significar: a agenda política tomou conta da peregrinação bem antes de ele decolar de Fiumicino.
O próprio Patriarca Latino de Jerusalém, Fouad Twal, declarou que a visita só terá dimensão política.
As organizações islâmicas radicais tentaram boicotar a visita às Colinas do Templo, onde estão os locais mais sagrados de Jerusalém, como a Igreja do Santo Sepulcro, sobre o Gólgota, e o Monte do Templo, onde Maomé ascendeu à Alá, mas, o Mufti, autoridade muçulmana responsável pelas mesquitas, proclamou que Sua Santidade terá as devidas honras.
Bento XVI não foi o primeiro, e não será o derradeiro Papa a pisar na Terra Santa. Em quaisquer circunstâncias, deveria ser um dogma da Santa Sé, a peregrinação do Sumo Pontífice até lá: é uma espécie de volta às origens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário