O parlamento brasileiro se tem furtado a discutir as grandes questões nacionais e apequenou-se nas alcovas do planalto.
A situação e a oposição, em sentido diferente, acabam marchando em uma mesma direção: aquela se resumiu a advogar as querelas do Poder Executivo e esta teima em transformar o parlamento em uma delegacia de polícia.
Os deputados e senadores têm perdido um bom tempo em CPIs que apenas traduzem a vaidade de uns e o ódio de outros.
Ao cabo, o material colhido nestas comissões vai parar em alguma prateleira empoeirada.
O mais recente fetiche da oposição é a CPI dos cartões corporativos.
Não deveria haver CPI para isto: os desvios de uso do instituto deveriam ser apurados em processos administrativos nos respectivos órgãos onde foram cometidos.
A Corregedoria Geral da União tem competência institucional para apurar responsabilidades, estabelecer sanções e, principalmente, recomendar mudanças nas normas de uso, para que se aprimore a detecção dos desvios.
Quando o Parlamento toma para si as atribuições que são corriqueiras da máquina pública, não há aí um foco específico no problema e nem uma vontade republicana de solução.
O que a oposição quer, neste episódio, é praticar o seu esporte preferido: tentar arranhar o governo na esperança de ver-lhe o sangue escorrer.
A CPI dos cartões corporativos não está interessada em saber quem desviou o que no uso do plástico. Tão pouco tem o foco de aconselhar mudanças no manuseio: quer escancarar politicamente à nação, qual a marca do protetor solar que a Primeira Dama usa e que tipo de vinho o Presidente bebe.
A situação, ao invés de enfrentar os caninos da oposição com um discurso focado na pertinência dos gastos – a Presidência da República tem estas prerrogativas – esconde-se na ampliação malversada do sigilo da informação.
Faz pior ainda, a situação: mune-se de dossiês com gastos similares do presidente anterior, onde se lê procedimentos semelhantes, na mais pura tradução do sujo às voltas com o mal lavado.
Quanto a mim, não me apetece mal saber que a Presidência da República usa o meu dinheiro para tomar champanhe e oferecer caviar aos seus convivas: servir bem e ser bem servido é uma prerrogativa institucional da Presidência.
Não posso achar que está correto o discurso de tamborete de que é uma vergonha o Presidente tomar Perrier enquanto o povo não tem água na torneira: isto pode ter algum efeito eleitoral, mas, não é o foco que a República precisa para por água na torneira do povo.
Precisamos sair deste lugar comum de achar que o Presidente tem que andar de GOL pelo mundo, e que a Primeira Dama deve comprar os seus terninhos no brechó: o Brasil já está maior que isto.
O Parlamento tem que parar com mania de delegacia de polícia e discutir, para resolver, as grandes questões nacionais, como a Reforma Política e Tributária.
O Brasil, como a oitava economia do mundo, chegou a um teto de difícil ultrapassagem.
Temos agora a responsabilidade de deixar para trás grandes potências, cujos líderes servem caviar aos seus convidados e vestem Armani, e cujas primeiras damas vestem Versace, calçam Prada e portam bolsas Gucci.
Não vale mais, para nós, esta insensatez de querer que o Presidente Lula vá de uniforme de metalúrgico para o Alvorada: este discurso torto não vai conseguir desempenar os fatos que queremos mudar.
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